Aconteceu alguns meses após eu ter começado a minha vida de
professor na FCAP/UFRA, lá pelos idos de 1974. Naquele tempo, havia
em todos os departamentos, uma entidade formal chamada Comissão de
Disciplina. Não, não era tratado a disciplina como comportamento,
mas a disciplina matéria. Essas comissões, formadas por diversos
professores que ministravam matérias afins, tinham a incumbência,
dentre outras, a de analisar em conjunto, as questões, por exemplo,
que fariam parte das provas das avaliações curriculares, os
chamados NPC’S, NHA’S e NEF’S. Se estavam bem formuladas,
dentro dos assuntos tratados, essas coisas. Pois bem. Estava eu
participando de uma dessas reuniões no departamento onde eu era
lotado, o de Fitotecnia. Ministrava algumas aulas de Silvicultura.
Recém-contratado e, digamos, virgem na função. Eram cinco os
professores que dela participavam: Prof. Calzavara, Prof. Humberto Koury, Prof. Rubens Lima, Prof. Álvaro Pantoja e eu.
–
Prof. Gondim! Recebi uma reclamação de um aluno seu. Disse que o
senhor é um péssimo professor! Que não sabe ensinar! Portanto,
para mim o seu conceito está assim: (E fez aquele gesto de polegar
estendido para baixo, com os demais dedos fechados na palma da mão)!
Era o prof. Rubens Lima. Empalideci. Calado estava, calado fiquei. Os
outros professores presentes entreolharam-se, mais ou menos
surpresos. Em um daqueles milésimos de segundos, meu cérebro
sentenciou:
– É tudo ou nada!
“– Se te calares agora, ele montará o resto da vida em ti!” – sussurrou uma voz mental em meu ouvido… E respondi:
– Prof. Rubens Lima. O senhor se lembra de um fato acontecido quando o senhor dava aula pra minha turma, ano passado? Sem parar de falar, continuei:
– Quando, durante um intervalo de sua aula, o prof. Mário Teixeira, de Zootecnia, entrou na sala, pediu licença e começou a “cantar” as notas que faltavam da prova dele, e que toda a turma estava ansiosa em saber? E o senhor, ao retornar à sala, deu a maior descompostura nele? – Vociferei sem parar!
–
Portanto, o seu conceito, a partir daquele momento, ficou assim: E
repeti o mesmo gesto feito por ele. Agora, o ambiente ficou agitado.
Entraram em ação os “deixa disso” e a reunião se
encerrou.
Dias depois, Fui chamado à sala do Departamento de
Fitotecnia, pelo Prof. Humberto Koury, que era o chefe de então. Lá,
estava presente o Prof. Calzavara, subchefe.
– O diretor da FCAP quer falar com o senhor! Disse o chefe. Não respondi nada.
– É sobre aquele episódio acontecido na comissão de disciplina! Falou um deles pra mim. Continuei calado, mas pensei com meus botões:
– Tôu ferrado! – Em seguida, levantou-se e saímos os três em direção à sala da Diretoria. Eu, no meio, cercado pelos professores Koury e Calzavara. Seguimos quase todos calados, pelos extensos corredores do prédio central. Eu, como se estivesse caminhando em direção à forca ou à cadeira elétrica!!! Entramos todos na imensa sala da diretoria. O diretor, Prof. Elias Seffer, estava sentado em sua cadeira diante da mesa do diretor. Convidou-nos pra sentar e já foi falando:
– Prof. Gondim! Quero parabenizá-lo pelo seu comportamento. Embora jovem e inexperiente o senhor se comportou muito bem, segundo me disseram os seus chefes.
– Confesso que eu estava pálido e trêmulo, prestes a receber a corda em meu pescoço ou a descarga elétrica.
–
Diretor. Só fiz o que a minha consciência me mandou fazer…
Respondi, agradecido com a frase que repentinamente a minha mente
elaborou. Houve alguns comentários a mais em meu favor, ditos pelos
meus chefes e saímos.
Devo registrar, em homenagem a esse
grande mestre, pesquisador e engenheiro agrônomo, Rubens Rodrigues
Lima, que embora por um certo tempo, nossas relações resumiram-se
meramente protocolares e cordiais, quando retornei de meu mestrado em
1977, voltamos a conversar e trocar ideias sobre várzea e outros
temas. E ele, na primeira vez que me viu, disse-me, descendo de sua
inseparável kombi:
–
Prof. Gondim. Por que o senhor não “pinta” os seus cabelos
brancos?! Veja bem, seus alunos podem ficar pensando: O que um
“velho” desses está fazendo dentro de sala de aula? E
blá-blá-blá…
Mas
estes são mais uns quinhentos milhões de reais!
Fica pra próxima!!!
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Publicado em 06 de fevereiro de 2018 em WEBARTIGOS
Égua do teu colega cri cri, ñ aprendeu nada com o chega pra lá que recebeu de ti...kkkkessa foi bos
ResponderExcluirObrigado pelo seu comentário. Mas esse meu colega tinha sido meu professor. Um grande professor, diga-se de passagem.
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