quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Tudo ou nada

 

                Aconteceu alguns meses após eu ter começado a minha vida de professor na FCAP/UFRA, lá pelos idos de 1974. Naquele tempo, havia em todos os departamentos, uma entidade formal chamada Comissão de Disciplina. Não, não era tratado a disciplina como comportamento, mas a disciplina matéria. Essas comissões, formadas por diversos professores que ministravam matérias afins, tinham a incumbência, dentre outras, a de analisar em conjunto, as questões, por exemplo, que fariam parte das provas das avaliações curriculares, os chamados NPC’S, NHA’S e NEF’S. Se estavam bem formuladas, dentro dos assuntos tratados, essas coisas. Pois bem. Estava eu participando de uma dessas reuniões no departamento onde eu era lotado, o de Fitotecnia. Ministrava algumas aulas de Silvicultura. Recém-contratado e, digamos, virgem na função. Eram cinco os professores que dela participavam: Prof. Calzavara, Prof. Humberto Koury, Prof. Rubens Lima, Prof. Álvaro Pantoja e eu. 
                – Prof. Gondim! Recebi uma reclamação de um aluno seu. Disse que o senhor é um péssimo professor! Que não sabe ensinar! Portanto, para mim o seu conceito está assim: (E fez aquele gesto de polegar estendido para baixo, com os demais dedos fechados na palma da mão)! Era o prof. Rubens Lima. Empalideci. Calado estava, calado fiquei. Os outros professores presentes entreolharam-se, mais ou menos surpresos. Em um daqueles milésimos de segundos, meu cérebro sentenciou:

                – É tudo ou nada!

                “– Se te calares agora, ele montará o resto da vida em ti!” – sussurrou uma voz mental em meu ouvido… E respondi:

                – Prof. Rubens Lima. O senhor se lembra de um fato acontecido quando o senhor dava aula pra minha turma, ano passado? Sem parar de falar, continuei:

                – Quando, durante um intervalo de sua aula, o prof. Mário Teixeira, de Zootecnia, entrou na sala, pediu licença e começou a “cantar” as notas que faltavam da prova dele, e que toda a turma estava ansiosa em saber? E o senhor, ao retornar à sala, deu a maior descompostura nele? – Vociferei sem parar!

                – Portanto, o seu conceito, a partir daquele momento, ficou assim: E repeti o mesmo gesto feito por ele. Agora, o ambiente ficou agitado. Entraram em ação os “deixa disso” e a reunião se encerrou.
Dias depois, Fui chamado à sala do Departamento de Fitotecnia, pelo Prof. Humberto Koury, que era o chefe de então. Lá, estava presente o Prof. Calzavara, subchefe.

                – O diretor da FCAP quer falar com o senhor! Disse o chefe. Não respondi nada.

                – É sobre aquele episódio acontecido na comissão de disciplina! Falou um deles pra mim. Continuei calado, mas pensei com meus botões:

                – Tôu ferrado! – Em seguida, levantou-se e saímos os três em direção à sala da Diretoria. Eu, no meio, cercado pelos professores Koury e Calzavara. Seguimos quase todos calados, pelos extensos corredores do prédio central. Eu, como se estivesse caminhando em direção à forca ou à cadeira elétrica!!! Entramos todos na imensa sala da diretoria. O diretor, Prof. Elias Seffer, estava sentado em sua cadeira diante da mesa do diretor. Convidou-nos pra sentar e já foi falando:

                – Prof. Gondim! Quero parabenizá-lo pelo seu comportamento. Embora jovem e inexperiente o senhor se comportou muito bem, segundo me disseram os seus chefes.

                – Confesso que eu estava pálido e trêmulo, prestes a receber a corda em meu pescoço ou a descarga elétrica.

                – Diretor. Só fiz o que a minha consciência me mandou fazer… Respondi, agradecido com a frase que repentinamente a minha mente elaborou. Houve alguns comentários a mais em meu favor, ditos pelos meus chefes e saímos.
                Devo registrar, em homenagem a esse grande mestre, pesquisador e engenheiro agrônomo, Rubens Rodrigues Lima, que embora por um certo tempo, nossas relações resumiram-se meramente protocolares e cordiais, quando retornei de meu mestrado em 1977, voltamos a conversar e trocar ideias sobre várzea e outros temas. E ele, na primeira vez que me viu, disse-me, descendo de sua inseparável kombi:

                – Prof. Gondim. Por que o senhor não “pinta” os seus cabelos brancos?! Veja bem, seus alunos podem ficar pensando: O que um “velho” desses está fazendo dentro de sala de aula? E blá-blá-blá…
Mas estes são mais uns quinhentos milhões de reais!

                Fica pra próxima!!!

Para saber mais, clique sobre as palavras sublinhadas em vermelho.

Publicado em 06 de fevereiro de 2018 em WEBARTIGOS

2 comentários:

  1. Égua do teu colega cri cri, ñ aprendeu nada com o chega pra lá que recebeu de ti...kkkkessa foi bos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pelo seu comentário. Mas esse meu colega tinha sido meu professor. Um grande professor, diga-se de passagem.

      Excluir

Divulgação do Livro Amazônia: Do Quase Paraíso Verde ao Provável Deserto Vermelho e Cinza

  Olá! Peço que divulguem em suas redes sociais e de algodão... PARA CONHECER MAIS, ACESSE E LEIA:  Onde está publicado e disponível também ...