quinta-feira, 2 de setembro de 2021

O Zero e o Dez em Ecologia

 

                Era na década de 1980, ou 1990, não lembro muito bem. Eu dava aulas de Ecologia Básica para duas turmas de Agronomia, A e B da Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, FCAP, hoje Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA. Chegara a época das avaliações. Primeiro NPC. Uma das turmas fez a prova na sexta e a outra faria no sábado. Porém, na sexta houve o fato: A FCAP tinha expulso um aluno que teria ido assistir aula, – pasmem vocês, – de bermuda! No sábado, tudo preparado para a prova, eu esperando a turma na porta da sala, quando chegou uma aluna, parece do Diretório Acadêmico e me disse:

                – Professor, os alunos não vão fazer sua prova em solidariedade ao aluno expulso! – Eu, surpreso, respondi pra ela que haviam outros meios de se solidarizar, blá-blá-blá. Mas não teve jeito. Ninguém entrou pra fazer prova. Então, chamei o meu chefe de departamento, comuniquei o ocorrido e fui embora. Esperei o prazo para a segunda chamada desta turma.

                Enquanto isso, corrigi as provas da outra turma que fez a prova sem problemas e publiquei suas notas. E nada! Ninguém se inscreveu pra fazer a segunda chamada. Não titubeei. Apliquei zero para toda a turma e publiquei. Foi um alvoroço geral!!! Nesse mesmo tempo, o aluno que foi expulso recorreu às instâncias superiores. Os alunos que levaram zero, também. No caso do zero, logo depois do episódio consumado com a publicação das notas, quiseram me convencer que eu não poderia ter dado zero, porque a prova não teria acontecido! Portanto, sem fato consumado não haveria punição.

                As semanas foram passando e então foi marcada a reunião da Congregação, instância maior da então FCAP. Nessa reunião seriam discutidos o zero da ecologia e a expulsão do aluno de bermuda. A “lavagem quase cerebral” continuava em cima de mim. “Não poderia ter o zero, porque a prova não teria acontecido!” Ai, examinei, pensei, avaliei toda a situação e contexto. Na semana da reunião, ou melhor, dois dias antes, pelo andar da carruagem e pelos murmúrios dos enormes corredores do prédio central da FCAP, concluí com os meus botões (da minha bata inseparável): Os caras vão manter a punição do aluno e vão mandar o professor de Ecologia, no caso eu, fazer nova prova. Escrevi então uma carta que previa antecipadamente este desfecho e mandei para os jornais diários. Um deles, o Jornal O Liberal, publicou na íntegra a minha carta, exatamente no dia da reunião da Congregação. Não deu outra! Foi mantida a expulsão do aluno e o professor de Ecologia teria que fazer nova prova. Acertei na mosca! Pena que não era o resultado da Loteria Esportiva da época!!!

                Ao fim e ao cabo, como diria meu avô português, foi assim decidido pela Congregação. Dias depois, recebi a comunicação para dar ciência e providência. Foi o que eu fiz. Preparei uma prova, marquei a data e realizei a mesma. Só que não me dei ao trabalho sequer de corrigir nenhuma das provas. Apliquei 10 (dez) para todos os alunos. E pensei novamente com os meus botões: Se eu não posso dar zero, quero ver se não posso dar dez!

Para saber mais, clique sobre as palavras sublinhadas em vermelho.

Publicado em 21 de fevereiro de 2018 em WEBARTIGOS

2 comentários:

  1. Não era zero Gondim, e sim WO. Dez também não podia.

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    1. Obrigado pelo seu comentário, Ricardo.Naquele tempo era analógico e a calculadora só lia algarismos. Kkk!!!

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