sábado, 4 de setembro de 2021

Quero ir na sintina!

 

                Eu tinha uma meta: Plantar uma tarefa e meia de caupi. A época era favorável e eu não poderia perdê-la. Nesse tempo só tinha o caseiro para fazer todas as tarefas do sítio. Eu estava em licença prêmio da FCAP/UFRA e me auto sitiei, literalmente. 

                Pois bem. Como eu já tava sabendo das manhas do Marcionilo, preparei tudo para que o trabalho fosse iniciado e terminado no mesmo dia. Uma tarefa e meia não era muita coisa, cerca de 0,45 ha. Em um dia preparamos as leiras e no outro faríamos o semeio. Para evitar imprevistos, exercitei a minha criatividade e construí um semeador e um sulcador, ambos puxados pela força humana. 

                Assim: Na frente ia o Marcionilo com o sulcador (a ponta desgastada de uma enxada velha com cabo) abrindo os sulcos e eu com o semeador (uma velha lata de leite em pó, com um furo feito no centro da superfície lateral do tamanho de um grão de caupi, tendo como eixo, um arame que atravessava a tampa e o fundo preso em um cordão que eu puxava, logo em seguida à passagem do sulcador. Lembrava um carrinho de lata, um de meus brinquedos de infância). Ele indo na frente, não podia fazer manha como parar, que eu tocava, corajosa e decididamente. 

                A área era perto de casa e da casa dele. Não dava uns 50 metros. Mesmo assim, me armei com uma bombona com água pra beber e um caneco, visto que o sol escaldante certamente forçaria a ingestão de líquido, especialmente para o Marcionilo. Começamos cedo o serviço. Quando deu umas 10 horas, o Marcionilo me fala:

                – Vou em casa beber água! – Era a senha pra parar o serviço e ir na casa dele…

                – Precisa não. Taqui, toma dessa daqui! – Convidei ele, demonstrando eu mesmo, com um gole, que a água era saudável! Ele concordou, tomou um canelo e continuamos o serviço. Mais adiante, de novo. Quis tomar água e já foi logo pegando o caneco e se servindo…

                Os instrumentos que tinha inventado, por sua vez, estavam funcionando a contento. E mais do que isso, estavam minimizando a manha do Marcionilo. E continuamos o serviço. Lá por volta das 13 horas, faltavam poucas leiras para semear, quando ele, suado e rosto aflito, falou pra mim:

                – Quero ir na sintina! – Putz! Não teve jeito. Pensei em falar pra ele mijar ali mesmo, atrás da moita, mas a cara dele denunciava que era mais do que um líquido xixi. Não tive opção, concordei. Demorou-se cerca de meia hora. Voltou aliviado e só assim terminamos finalmente a missão.

Para saber mais, clique sobre as palavras sublinhadas em vermelho.

Publicado em 19 de abril de 2018 em WEBARTIGOS

Patinhos para a pérgola da piscina

 

                Quem um dia foi proprietário de um sítio ou desejou ter um?! Eu tive o meu. Na verdade, eu era o sócio proprietário. A sociedade era familiar: Eu, meu pai e meu irmão. Montamos uma microempresa, a Atumã Agroecossistemas. O Sítio Atumã, estava localizado à margem da rodovia PA-140, km 08, São Caetano de Odivelas, Pará. Cheguei a passar algumas licenças prêmios de meu trabalho na FCAP lá, para cuidar 24 horas dos negócios que estavam se iniciando. Eram criações de patos, marrecos, galinhas, porcos e peixes, em sistemas agrícolas que buscavam a auto sustentação, segundo os princípios da ecologia agrícola e da tecnologia moderada.

                Este episódio aconteceu na primeira safra de produtos que levei para serem vendidos em Belém.

                – Que lindos! Quero um casal pra decorar a pérgola de minha piscina! – Disse a madame, ao ver os marrecos de Pequim expostos para a venda, no chão presos por um fio.

                Olhei para o caseiro Geraldo, e ele olhou pra mim, ambos com os olhares espantados e ao mesmo tempo decepcionados. Só tínhamos machos.
                – Vou ao supermercado e na volta comprarei um casal, viu?! – Completou a madame e se foi. Antes de eu falar alguma coisa, o Geraldo dá a solução:
                – A gente arranca aquelas peninhas levantadas do rabo e pronto, tá resolvida a questão!

                Tínhamos estacionado a Belina cargueira no meio-fio do cruzamento da av. Doca de Souza Franco com a rua Antônio Barreto. Uma semana anterior ao Círio de Nazaré de 1987. Tínhamos patos, marrecos de Pequim e de Ruan, alguns capões e umas velhas galinhas pra vender. Tentamos inicialmente vender em frente à Basílica de Nazaré, mas fomos gentilmente convidados a nos retirar por um fiscal da Prefeitura de Belém. Daí optarmos pela Doca, considerando que o supermercado tinha sido recentemente inaugurado.
                Sugestão dada, solução realizada. Cerca de 30 minutos depois a madame voltou:
                – Cadê o meu casal de patinhos?
                – Estão aqui, senhora.
                Recebemos o pagamento e entregamos o produto acondicionado em 2 sacolas com as asas e os pés devidamente amarrados. E a madame se foi, com um sorriso de orelha a orelha…

Para saber mais, clique sobre as palavras sublinhadas em vermelho.

Publicado em 04 de maio de 2018 em WEBARTIGOS

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Uso Exclusivo em Serviço

 

                Este fato aconteceu em uma das primeiras aulas práticas de Ecologia que realizei no Marajó. Saíamos na sexta-feira de manhã cedo. Partindo, como de costume, da Praça do Operário, em São Brás, Belém, Pará e seguíamos para Icoaraci. De lá embarcávamos na balsa ferry boat para o porto de Camará, Salvaterra, ilha do Marajó. Quase quatro horas depois desembarcávamos em Camará e rodávamos cerca de dez minutos. Aí, já começavam as atividades práticas no Campo Cerrado da beira da estrada. Aproximadamente duas horas depois, embarcávamos todos e seguíamos viagem. Eram mais cerca de 25 km na PA-154 até a beira do rio Paracauarí. Na margem direita do rio, aguardávamos uma outra balsa para embarcar e atravessar finalmente para Soure. Cerca de quinze a vinte minutos depois já em Soure, seguíamos mais cerca de quatro quilômetros até chegar em nosso destino, a comunidade de Tucumanduba, Soure, Pará.

                Da saída do ônibus de Belém até a sua chegada em Tucumanduba, Soure, eram quase seis a sete horas de duração. Convenhamos que era uma boa jornada, quase um triatlo!!! Uma parte dos participantes ficavam alojados na sede da Associação dos Caranguejeiros de Soure e outra parte na Base da ONG Novos Curupiras, uma bem próxima da outra. Cada um levava sua rede, ou colchonete, ou saco de dormir, ou até barraca de camping, além de repelente, garrafinha de água ou cantil e outros apetrechos de uso pessoal. Eu levava o rancho providenciado pela FCAP/UFRA e uma cozinheira da ONG.

                Após o desembarque a arrumação das tralhas e rancho. Em seguida, esperando o almoço, fazíamos uma reunião para comunicação da programação a ser cumprida e dos deveres e direitos de todos, etc. e tal. Alvorada às seis horas da manhã, com direito a fogos de seis tiros! Banho em um único chuveiro, café às sete e às oito, embarque no ônibus para o destino da aula prática do dia. Almoço, só na volta da jornada, o que acontecia lá pelas 15, 16 horas.

                Finalmente, a turma era liberada. Descansar, passear e outros programas eram indicados ou sugeridos. Um deles aconteceu na noite de sábado para domingo. Parte da turma queria conhecer o centro de Soure, ou melhor, queria ir a uma balada. Como era afastado do centro e não existia serviço de ônibus público, só moto táxis, um grupo veio a mim pedir para que o motorista deixasse eles no ônibus da FCAP/UFRA. Argumentei que o motora estava cansado e que eles tentassem negociar direto com o mesmo… E continuei: Que ele só poderia deixá-los. A volta era por conta de cada um. E outros blás-blás-blás. Depois de argumentos e contra argumentos, concordei e acompanhei todos, anunciando que iríamos fazer um reconhecimento ecológico noturno pela cidade e na volta quem quisesse descer em algum ponto, o fizesse, por conta e risco. Saímos. Depois de visitarmos o trapiche, o “point” da cidade, rodamos até a Quarta rua e paramos em frente a uma balada.

                “– Estamos recebendo a visita de estudantes da FCAP!” – ouvi o estrondo do som na aparelhagem colocada na calçada.

                E continuou: “– Governo Federal. Ministério da Educação.Faculdade de Ciências Agrárias do Pará! Uso exclusivo em serviço!” – Putz! O cara leu tudo que tinha na parede lateral do ônibus, inclusive a placa amarela! Todos desceram e entraram no recinto da balada. Fiquei por último e falei ao motorista.

                “– Bora embora! Depois desta recepção, só nos resta ir embora!”

                E nos mandamos pra Tucumanduba.

Para saber mais, clique sobre as palavras sublinhadas em vermelho.

Publicado em 01 de março de 2018 em WEBARTIGOS

Lixo etílico

 

                Sempre considerei aprender e ensinar ecologia, que o contato direto com a Natureza é fundamental e imprescindível. Daí meu empenho em realizar aulas práticas, tanto na Ecologia Básica como na Ecologia Agrícola.

                Fucei ambientes dentro, próximos e distantes da FCAP/UFRA. Eram frequentes as aulas nas matas e capoeiras localizadas por detrás da garagem da FCAP/UFRA, a que varava no Departamento de Solos, na Área de Várzea às margens do rio Guamá e muitos outros locais. Pela “picada” no fundo da Zootecnia, superávamos o igarapé Murucutum, por cima de tronco caído, varávamos até a estrada da CEASA passando pelas Ruínas do Murucutum. A mesma coisa era feita pela “picada” da várzea. Atravessávamos uma velha ponte de madeira e alcançávamos a estrada da CEASA. Daí seguíamos até as Reservas do Mocambo e Área de Pesquisas Ecológicas do Guamá, APEG, sempre passando antes pelas Ruínas do Murucutum. A maioria delas feitas caminhando, outras usando o ônibus da FCAP/UFRA ou alugados.

                A minha convicção e segurança foi se firmando e decidi alçar voos mais longos. Os ecossistemas de Campos Cerrados e Manguezais passaram a ser alvo de aulas práticas mais demoradas. Inicialmente, saíamos às 07:00 horas e retornávamos… Bem, a hora de retorno era variada… Meu objetivo era alcançar o campo cerrado localizado próximo à Vigia e o manguezal mais adiante, em São Caetano deOdivelas. Só depois de alguns anos decidi atravessar a Baia do Marajó e fazer as aulas práticas por lá. Mas isso são outros quinhentos mil reais!
O ônibus partia da Praça do Operário,em frente ao Terminal Rodoviário. E lá íamos nós. Como eu sabia que entre os estudantes tinham uns mais afoitos e ansiosos, estabeleci a regra: Nem antes, nem durante a ingestão de bebida alcoólica era permitida. Depois, sim, com moderação, é claro. Só que esse depois, quase sempre era antecipado. Ao finalizar a aula, todos lambuzados de lama do mangue, já na viagem de volta, parávamos no Balneário Santa Rosa, perto de Santo Antônio do Tauá, onde além de fazermos uma refeição, tomávamos banho no igarapé e nos divertíamos. Daí, algumas horas depois, retornávamos ao ônibus para finalizar viagem. Sempre o ponto final na mesma praça. Paradas no meio do caminho eram permitidas e até pegar carona no ônibus que voltava para a FCAP/UFRA eram feitas. Foi numa dessas vezes que aconteceu o fato.

                “– Professor, venha ver o que encontramos dentro do ônibus!”. Falou na segunda feira de manhã, logo após uma dessas aulas, um funcionário da garagem da FCAP/UFRA encarregado de fazer a lavagem do veículo para uso interno, o chamado “bagé”. Fui ver. Putz! Algumas garrafas vazias de Tatuzinho, 51 e outras coisas mais, estavam no assoalho do ônibus! Pedi desculpas a ele, afirmando que isso não iria mais acontecer. Nunca mais! "

                – Como? Uma turma de Ecologia não recolher e dar destino adequado ao lixo produzido?! Pensei eu resignado.

Para saber mais, clique sobre as palavras sublinhadas em vermelho.

Publicado em 04 de maio de 2018 em WEBARTIGOS


quinta-feira, 2 de setembro de 2021

O Zero e o Dez em Ecologia

 

                Era na década de 1980, ou 1990, não lembro muito bem. Eu dava aulas de Ecologia Básica para duas turmas de Agronomia, A e B da Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, FCAP, hoje Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA. Chegara a época das avaliações. Primeiro NPC. Uma das turmas fez a prova na sexta e a outra faria no sábado. Porém, na sexta houve o fato: A FCAP tinha expulso um aluno que teria ido assistir aula, – pasmem vocês, – de bermuda! No sábado, tudo preparado para a prova, eu esperando a turma na porta da sala, quando chegou uma aluna, parece do Diretório Acadêmico e me disse:

                – Professor, os alunos não vão fazer sua prova em solidariedade ao aluno expulso! – Eu, surpreso, respondi pra ela que haviam outros meios de se solidarizar, blá-blá-blá. Mas não teve jeito. Ninguém entrou pra fazer prova. Então, chamei o meu chefe de departamento, comuniquei o ocorrido e fui embora. Esperei o prazo para a segunda chamada desta turma.

                Enquanto isso, corrigi as provas da outra turma que fez a prova sem problemas e publiquei suas notas. E nada! Ninguém se inscreveu pra fazer a segunda chamada. Não titubeei. Apliquei zero para toda a turma e publiquei. Foi um alvoroço geral!!! Nesse mesmo tempo, o aluno que foi expulso recorreu às instâncias superiores. Os alunos que levaram zero, também. No caso do zero, logo depois do episódio consumado com a publicação das notas, quiseram me convencer que eu não poderia ter dado zero, porque a prova não teria acontecido! Portanto, sem fato consumado não haveria punição.

                As semanas foram passando e então foi marcada a reunião da Congregação, instância maior da então FCAP. Nessa reunião seriam discutidos o zero da ecologia e a expulsão do aluno de bermuda. A “lavagem quase cerebral” continuava em cima de mim. “Não poderia ter o zero, porque a prova não teria acontecido!” Ai, examinei, pensei, avaliei toda a situação e contexto. Na semana da reunião, ou melhor, dois dias antes, pelo andar da carruagem e pelos murmúrios dos enormes corredores do prédio central da FCAP, concluí com os meus botões (da minha bata inseparável): Os caras vão manter a punição do aluno e vão mandar o professor de Ecologia, no caso eu, fazer nova prova. Escrevi então uma carta que previa antecipadamente este desfecho e mandei para os jornais diários. Um deles, o Jornal O Liberal, publicou na íntegra a minha carta, exatamente no dia da reunião da Congregação. Não deu outra! Foi mantida a expulsão do aluno e o professor de Ecologia teria que fazer nova prova. Acertei na mosca! Pena que não era o resultado da Loteria Esportiva da época!!!

                Ao fim e ao cabo, como diria meu avô português, foi assim decidido pela Congregação. Dias depois, recebi a comunicação para dar ciência e providência. Foi o que eu fiz. Preparei uma prova, marquei a data e realizei a mesma. Só que não me dei ao trabalho sequer de corrigir nenhuma das provas. Apliquei 10 (dez) para todos os alunos. E pensei novamente com os meus botões: Se eu não posso dar zero, quero ver se não posso dar dez!

Para saber mais, clique sobre as palavras sublinhadas em vermelho.

Publicado em 21 de fevereiro de 2018 em WEBARTIGOS

Churrasco de mucura


                Papai Curupira, Papai Curupira, olhe aqui o que pegamos! Disse o Paulo Henrique pra mim, quando abri o portão da casa. Era manhã de um sábado, dia em que eu passava o dia inteiro na casa recém-transformada em Casa dos Curupiras, lá na Estrada da Providência, Ananindeua, Pará.
                – Vocês sabem que a gente come esse bicho? Respondi pra eles, todos já dentro da casa, e um deles ainda segurando o bicho. Quando me vi, já tinham chamado a mãe do André para descorar, destripar, enfim, preparar o petisco exótico. Ao ver o resultado desse pré preparo da matéria-prima para o nosso almoço, conjecturei, baseado na quantidade de garotos que estavam presentes:
                – Acho que esse não vai dar pra todos nós! Falei num tom até desencorajador.
                – Eu sei onde tem outro! Eu sei onde tem outro! Gritou o Juarez. Antes que eu respondesse, ele saiu correndo, acompanhado pelos outros garotos. Minutos depois lá tocava o sino do portão novamente e eu fui ver. Eram eles de novo, com mais um animal abatido seguro pelas mãos. Entraram e o mesmo serviço feito ao primeiro se repetiu. Eu então peguei uma churrasqueira que tinha e comecei fazer a minha parte, ou melhor, a parte que eu sabia ou pensava em saber fazer: Assar os bichos!
                – Vamos comer churrasco hoje! Gritei para que todos ouvissem. O menino Renan foi comprar um quilo de farinha e o Hernandes foi preparar um arroz no velho fogão da casa.
                Já eram lá pelas 13 horas quando o churrasco ficou pronto. O sino tocou de novo. Alguém foi abrir e era a Fafá, então minha namorada. Ela veio direto para onde estava a churrasqueira e sem cerimônia, pegou uma das coxinhas já assadas e se deliciou. Chamei toda a turma das crianças e começamos o almoço. Foi só aí que falei pra Fafá:
                – Que tal o churrasco de mucura, gostastes?

Para saber mais, clique sobre as palavras sublinhadas em vermelho.

Publicado em 04 de maio de 2018 em WEBARTIGOS

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Tudo ou nada

 

                Aconteceu alguns meses após eu ter começado a minha vida de professor na FCAP/UFRA, lá pelos idos de 1974. Naquele tempo, havia em todos os departamentos, uma entidade formal chamada Comissão de Disciplina. Não, não era tratado a disciplina como comportamento, mas a disciplina matéria. Essas comissões, formadas por diversos professores que ministravam matérias afins, tinham a incumbência, dentre outras, a de analisar em conjunto, as questões, por exemplo, que fariam parte das provas das avaliações curriculares, os chamados NPC’S, NHA’S e NEF’S. Se estavam bem formuladas, dentro dos assuntos tratados, essas coisas. Pois bem. Estava eu participando de uma dessas reuniões no departamento onde eu era lotado, o de Fitotecnia. Ministrava algumas aulas de Silvicultura. Recém-contratado e, digamos, virgem na função. Eram cinco os professores que dela participavam: Prof. Calzavara, Prof. Humberto Koury, Prof. Rubens Lima, Prof. Álvaro Pantoja e eu. 
                – Prof. Gondim! Recebi uma reclamação de um aluno seu. Disse que o senhor é um péssimo professor! Que não sabe ensinar! Portanto, para mim o seu conceito está assim: (E fez aquele gesto de polegar estendido para baixo, com os demais dedos fechados na palma da mão)! Era o prof. Rubens Lima. Empalideci. Calado estava, calado fiquei. Os outros professores presentes entreolharam-se, mais ou menos surpresos. Em um daqueles milésimos de segundos, meu cérebro sentenciou:

                – É tudo ou nada!

                “– Se te calares agora, ele montará o resto da vida em ti!” – sussurrou uma voz mental em meu ouvido… E respondi:

                – Prof. Rubens Lima. O senhor se lembra de um fato acontecido quando o senhor dava aula pra minha turma, ano passado? Sem parar de falar, continuei:

                – Quando, durante um intervalo de sua aula, o prof. Mário Teixeira, de Zootecnia, entrou na sala, pediu licença e começou a “cantar” as notas que faltavam da prova dele, e que toda a turma estava ansiosa em saber? E o senhor, ao retornar à sala, deu a maior descompostura nele? – Vociferei sem parar!

                – Portanto, o seu conceito, a partir daquele momento, ficou assim: E repeti o mesmo gesto feito por ele. Agora, o ambiente ficou agitado. Entraram em ação os “deixa disso” e a reunião se encerrou.
Dias depois, Fui chamado à sala do Departamento de Fitotecnia, pelo Prof. Humberto Koury, que era o chefe de então. Lá, estava presente o Prof. Calzavara, subchefe.

                – O diretor da FCAP quer falar com o senhor! Disse o chefe. Não respondi nada.

                – É sobre aquele episódio acontecido na comissão de disciplina! Falou um deles pra mim. Continuei calado, mas pensei com meus botões:

                – Tôu ferrado! – Em seguida, levantou-se e saímos os três em direção à sala da Diretoria. Eu, no meio, cercado pelos professores Koury e Calzavara. Seguimos quase todos calados, pelos extensos corredores do prédio central. Eu, como se estivesse caminhando em direção à forca ou à cadeira elétrica!!! Entramos todos na imensa sala da diretoria. O diretor, Prof. Elias Seffer, estava sentado em sua cadeira diante da mesa do diretor. Convidou-nos pra sentar e já foi falando:

                – Prof. Gondim! Quero parabenizá-lo pelo seu comportamento. Embora jovem e inexperiente o senhor se comportou muito bem, segundo me disseram os seus chefes.

                – Confesso que eu estava pálido e trêmulo, prestes a receber a corda em meu pescoço ou a descarga elétrica.

                – Diretor. Só fiz o que a minha consciência me mandou fazer… Respondi, agradecido com a frase que repentinamente a minha mente elaborou. Houve alguns comentários a mais em meu favor, ditos pelos meus chefes e saímos.
                Devo registrar, em homenagem a esse grande mestre, pesquisador e engenheiro agrônomo, Rubens Rodrigues Lima, que embora por um certo tempo, nossas relações resumiram-se meramente protocolares e cordiais, quando retornei de meu mestrado em 1977, voltamos a conversar e trocar ideias sobre várzea e outros temas. E ele, na primeira vez que me viu, disse-me, descendo de sua inseparável kombi:

                – Prof. Gondim. Por que o senhor não “pinta” os seus cabelos brancos?! Veja bem, seus alunos podem ficar pensando: O que um “velho” desses está fazendo dentro de sala de aula? E blá-blá-blá…
Mas estes são mais uns quinhentos milhões de reais!

                Fica pra próxima!!!

Para saber mais, clique sobre as palavras sublinhadas em vermelho.

Publicado em 06 de fevereiro de 2018 em WEBARTIGOS

Divulgação do Livro Amazônia: Do Quase Paraíso Verde ao Provável Deserto Vermelho e Cinza

  Olá! Peço que divulguem em suas redes sociais e de algodão... PARA CONHECER MAIS, ACESSE E LEIA:  Onde está publicado e disponível também ...