domingo, 5 de setembro de 2021

O caseiro trapalhão

 

                Ele foi contratado no Serviço Nacional de Empregos, SINE, em Belém, Pará. Era um ex-recruta da Marinha e estava desempregado. Quem fez o contatos e o encaminhou para o sítio foi o meu pai. Lá chegando, conversamos sobre o trabalho e ele sempre afirmativo. Sabia disso, sabia daquilo, etc. Apresentei o sítio todo, a casa onde ele ficaria e avisei que no outro dia, cedo, as atividades começariam. Dito e feito. Na presença do Brás, um funcionário local que trabalhava desde o início com a gente, apresentei o novo caseiro, as atividades diárias rotineiras e todo o bê-á-bá do sítio. A fim de testá-lo em suas habilidades de campo, passei uma primeira tarefa: Cortar umas canaranas, triturá-las no desintegrador-picador-moedor, DPM elétrico e servir aos porcos. Entreguei-lhes um par de botas cano longo, uma foice e perguntei-lhes, reforçando:
                – Sabes manejar esta ferramenta? – De pronto respondeu que sim. Olhei pro Brás que iria acompanhá-lo, como se mentalmente estivesse dizendo:
                – Vai com ele, mostra onde é e fica observando o jeito dele.
A área de corte de canarana se localizava nos fundos do terreno, em um terreno baixo, tipo igapó. E lá foram os dois.
Algum tempo depois, talvez, uma hora adiante, sou surpreendido com o retorno dos dois, sem nenhuma canarana sequer cortada. O novo caseiro, cabisbaixo e o Brás com olhar apreensivo.
                – Que aconteceu? – Perguntei.
                O novo caseiro, com a cara suada apontou para um dos pés, que ainda estavam calçados com as botas.
                – Me furei!
                – Como? – Perguntei, olhando para o Brás confuso e com a cara prestes a cair na risada.
                – Foi com a foice!
                – Como? Repeti a pergunta.
                – Ele não sabe usar a foice, seu Carlos! – Sentenciou o Brás.

                – Na hora de dar o lance a foice voltou pra ele batendo em seu pé! Chegou a furar a bota, de tão forte foi o lance! – Completou o Brás.
                Pedi pra ele tirar as botas pra mim verificar o corte, etc. Felizmente o corte foi pequeno. Um esparadrapo, e uma gaze embebida com mertiolate que guardava na pasta de primeiros socorros do sítio, sanou o ferimento. Por essa e por outras trapalhadas, uma semana depois o caseiro voltou a ser desempregado.

Para saber mais, clique sobre as palavras sublinhadas em vermelho.

Publicado em 23 de abril de 2018 em WEBARTIGOS

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