quinta-feira, 10 de março de 2022

Situações tensas, curiosas e até hilárias de minha vida no trânsito

 Tirei carteira de motorista logo que completei dezoito anos. De lá para os dias atuais, passei por algumas situações de trânsito tensas, outras curiosas e até hilárias.

Em 1971, já cursando agronomia e de posse de um fusquinha 1962 que me foi presenteado pelo meu saudoso pai, fui deixar um colega de faculdade, no Porto do Açaí, Belém, Pará. Ele viajaria para Macapá e pediu-me essa carona. Deixei-o lá e após nos despedirmos retornei pra casa. Era em torno do meio dia. Visando cortar caminho e avaliando o pouco movimento do trânsito no horário, decidi fazer uma conversão para esquerda, que era proibida. Avancei. Ao chegar na esquina da av. Portugal, poucos metros adiante, ouvi o apito estridente de um guarda de trânsito. Imediatamente encostei o carro. Ele aproximou-se, falou que eu tinha feito uma manobra proibida e que seria multado. Falou pra eu lhes acompanhar até o clipper – eram terminais urbanos de ônibus que durante décadas se espalharam pela cidade. O número 01 existia na esquina da av. Portugal com a rua João Alfredo, Ver-o-peso – e recentemente fora transformado em delegacia de trânsito do Departamento Estadual de Trânsito, DET. Desci e o acompanhei-o até o clipper. Ele se dirigiu a um outro guarda que estava sentado a frente de uma mesa, talvez, seu chefe, relatou o fato e imediatamente este preencheu um papel de multa com meus dados obtidos pela carteira de habilitação que eu apresentara, mandou eu assinar e me entregou. Tentei insistentemente argumentar que não causei nenhum acidente, que o movimento do trânsito estava tranquilo, etc. etc. etc. Não teve jeito. Eu, ao receber o papel da multa, me dirigi até a porta e em um gesto impulsivo e rápido, amassei o papel e o joguei janela afora. Antes de eu alcançar a porta de saída, um “guarda-roupa”, isto é, um outro guarda – é bom lembrar que naquela época o trânsito do estado era administrado pela Polícia Militar – fechou a saída e eu recebi a ordem: – O senhor está preso! Desacato à autoridade! Um outro guarda saiu e recuperou o papel da multa amassado por mim, era a prova do crime! Por alguns instantes fiquei pálido e paralisado. Que fazer? Fui até o guarda que estava sentado e sentado ficou, pedi pra usar o telefone para ligar para o meu saudoso pai. Ele autorizou, pegou o telefone e me deu. Liguei, contei nervosamente o ocorrido e meu pai sem pestanejar, respondeu-me que iria até mim. Alguns minutos depois, lá estava ele no clipper. Se apresentou – meu pai era oficial major/R1 dentista do Exército Brasileiro – e o guarda narrou detalhadamente o ocorrido enfatizando o meu inadequado comportamento. Argumentos pra cá, argumentos pra lá, finalmente o guarda me liberou, sem antes de me dar um esculacho – o que meu pai estrategicamente concordou – entregou o papel da multa e minha carteira para o meu pai e saímos. Seria esta a minha primeira multa de trânsito acompanhada de prisão!

Ainda estudante de agronomia, agora já estagiando, me deparei com uma situação de trânsito inusitada. Ia eu pela av. Conselheiro Furtado, Belém, Pará, altura da Travessa Serzedelo Corrêa. Retornava pra casa. Um pouco antes desta esquina havia uma blitz do DET. Ao me aproximar, em um gesto certamente premeditado, peguei a carteirinha de meu estágio – em plástico, com minha foto 3x4 e na qual se destacava uma tarja diagonal verde-amarela, e a expus acintosamente no para-brisas. Este movimento perdurou por alguns minutos até eu chegar ao guarda que comandava a blitz. Este, ao ver a carteirinha, gesticulou repetidamente, como mensagem para eu passar livremente. Passei, acelerei o carro e me mandei…

1987. Estava eu e toda a minha família seguindo para Niterói, Rio de Janeiro. Visitaríamos o meu saudoso tio Tonecas. Em um certo trecho da ponte Rio – Niterói fui abordado por uma blitz da Polícia Rodoviária Federal, PRF. O guarda indicou o local apropriado para eu estacionar, aproximou-se e pediu os documentos do carro e a minha carteira de habilitação. Sai de dentro do carro – um Corcel 1973, placas de Belém, Pará – e o acompanhei na vistoria. – O senhor será multado! – disse ele, apontando para a placa traseira. – Está sem o lacre obrigatório. – complementou secamente. Tentei argumentar que estávamos em trânsito; que a Belém – Brasília não tava asfaltada, portanto, muitos buracos haviam, etc e tal. Aí veio aquela argumentação quase infalível: – Poxa, seu guarda, quebre esse galho! – Falei de uma forma não muito convencida, mas falei. – Tá bom. Deixa aí o da merenda que liberarei o senhor. Tirei da carteira uma certa grana – não muita – agradeci e fiz o gesto de entregá-la na mão do dito. Pra minha surpresa o guarda falou em tom mais baixo, quase inaudível: – Não, não me dê na mão. Coloque ali na alça do assento de minha moto – falou ele. Fiz o que mandou, recebi de volta os documentos e segui viagem…

Já em Belém, alguns anos adiante, por volta de 1988, agora na atividade complementar de sitiante, fazia todas as sextas-feiras à tarde, viagens para o meu sítio localizado na estrada de São Caetano de Odivelas (PA – 140). Ia levar rações e materiais. Alguns quilômetros depois da cidade de Santo Antônio do Tauá, antes de alcançar a bifurcação da rodovia – braço esquerdo vai para Vigia e o direito, São Caetano de Odivelas, havia um posto de fiscalização da Secretaria da Fazenda Estadual do Pará, SEFA-PA onde a Polícia Rodoviária Estadual do Pará, PRE-PA também acantonava aproveitando a infraestrutura existente – um prédio, energia e água – e fazia aí suas blitzes. Em uma das minhas primeiras passagens por ela, fui abordado. Aproximaram-se um guarda da PRE-PA e um funcionário da SEFA-PA. Pediram-me os documentos do veículo, do motorista e a nota fiscal da carga, o que atendi prontamente. O funcionário da SEFA-PA olhou as notas, dirigiu-se até a carroceria, vistoriou o que estava embarcado, retornou e falou que estavam faltando as notas do farelo de palmiste. Apresentei-lhes um pequeno recibo manuscrito que costumeiramente recebia na hora da compra deste produto. Ele retrucou que não servia. Enquanto isso, o guarda da PRE-PA, devolveu-me os documentos e disse: – Deixe o da nossa merenda que liberaremos o seu veículo e a carga. Não vi saída e fiz o que pediu. Estas viagens eram rotineiras. Todas as sextas-feiras, à tarde, lá ia eu pro meu sítio em São Caetano de Odivelas. E tornou-se rotineira a minha parada compulsória no tal do posto de fiscalização na PA – 140 para dar a “merenda” pro pessoal. Até que decidi cumprir ao pé da letra o pedido do guarda da PRE-PA. Parei em Santo Antônio do Tauá, me dirigi até uma mercearia, pedi um pão cacete, cortado longitudinalmente e com farta manteiga. Falei que era pra viagem. Paguei e levei o embrulho. Ao chegar no dito posto, antes mesmo de ser abordado, estacionei o veículo e na aproximação do guarda, dei-lhe carinhosamente o embrulho dizendo-lhes: – Taqui a “merenda” de vocês. Risonho ele recebeu o pacote, entendeu a mensagem, agradeceu e eu me mandei.

A última marcante multa de trânsito que recebi aconteceu alguns anos atrás, 2018, em Belém, Pará. Seguia pela av. Dr. Freitas em direção à Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA. Ao cruzar a av. Almirante Barroso, fui parado logo adiante, por um guarda da Secretaria de Mobilidade de Belém, SEMOB, que administra o trânsito no município de Belém e fazia blitz por ali. Parei o carro e em gesto já automático peguei a minha carteira de habilitação e os documentos do carro, esperei o guarda chegar e entreguei-lhes, mesmo antes dele os pedir. Fez aquele já conhecido movimento ao redor do veículo, retornou à janela do motorista e disse? – Seu carro está com o documento vencido! Será multado e rebocado! E me mostrou a data vencida. Tentei argumentar, mas em vão. – A multa custa tantos reais! – Falou ele, em tom agora arrogante e intimidador. – Mas seu guarda! Eu estou sem grana pra pagar esta multa! – Falei um tanto nervoso mostrando um cartão de crédito que portava rotineiramente. Insisti no argumento de que quem dirigia frequentemente o veículo era outra pessoa, e que eu quase não pegava no carro, blá, blá, blá. Ai ele virou pra mim, viu o cartão em minha mão e orientou: – Ali, na esquina da av. Almirante Barroso com a av. Júlio César tem um caixa eletrônico. Vá lá, retire o dinheiro, volte e pague que liberarei seu veículo. – Entregou de volta a minha carteira de motorista mas reteve o documento do veículo, ainda orientou a minha partida e eu fui até o endereço indicado. No caminho, me veio um pensamento e uma armação que tentei formar durante esta inesperada situação. Ops! Não tinha visto nenhum papel de multa gerado na mão do guarda. Esse guarda tá pedindo é propina! – Concluí e já pensando de, em vez de ir ao caixa eletrônico deveria ir em duas emissoras de comunicação que tem seus prédios lá por perto e denunciar a situação. Porém, ao mesmo tempo, lembrei-me de uma reportagem que assisti nas TVs locais dias antes, sobre exatamente agentes corruptores e pensei naquele ditado que diz “a corda arrebenta pro lado do mais fraco”. Fui até o caixa eletrônico, fiz a retirada, paguei a “multa”, recebi os meus documentos e segui adiante. Hoje, minha Carteira Nacional de Habilitação, CNH, está vencida e eu não tenho a menor vontade de atualizá-la! Eita vida estranha essa de motorista!

Publicado em 23 de dezembro de 2021 em https://www.webartigos.com/artigos/situacoes-tensas-curiosas-e-ate-hilarias-de-minha-vida-no-transito/168960

Faixa Cidadão. Uma comunicação divertida e solidária

            Em um tempo que nem se imaginava a existência do celular, o rádio faixa cidadão, apelidado simplesmente de PX, desempenhou um papel fundamental na comunicação entre as pessoas do mundo todo.

            Entrei para o rádio faixa cidadão por incentivo de meu irmão que então morava em São Paulo. Comprei os equipamentos: Um rádio Cobra 148 GTL; uma antena para estação móvel – carro – e uma antena para a estação fixa. Cadastrei-me no Departamento Nacional de Telecomunicação, DENTEL, hoje Agência Nacional de Telecomunicações, ANATEL, paguei as taxas exigidas e recebi o meu indicativo, ou seja, a minha placa identificadora pessoal e intransferível, parecido com o CPF: PX-8-D-1024. Estabeleci duas estações: um móvel, em meu carro e uma fixa, em minha residência.

            Chegava de meu trabalho diário, tomava banho e ia modular – conversar no rádio – na estação fixa. Muito rápido aprendi quase todas as gírias e o chamado código Q. Ficava horas e horas, maravilhado com a possibilidade, por exemplo, de conversar com meu irmão em São Paulo, sem ter que pagar interurbano. À nível local, comecei a conhecer, via PX, os macanudos – amigos – da cidade. Logo, logo, percebi que só isso não me bastava. Era muito QRM – muito ruído, muitas vozes ao mesmo tempo! Muita falação e, digamos, muita “abobrinha” e papos-furados. Decidi então chucrutar – alterar as características originais do equipamento aumentando-lhes o número de canais e até a potência do rádio e instalar uma “bota”, ou melhor, um amplificador de sinal com maior potência que me permitisse ser ouvido mais alto e alcançasse mais outros lugares e regiões até então não atingidos. Porém, essas duas técnicas e tecnologias eram digamos, ilegais, proibidas pelo DENTEL – cujo sugestivo apelido era Papai Noel. Daí a adoção de um QRA – nome do operador – fictício: Curupira. Estação Curupira. Explicando melhor: O DENTEL autorizava sessenta canais dentro de uma certa faixa de frequência. Dentro desses 60 canais, tudo bem, poderia se conversar, etc. Porém, eram muitos os PX’S e como disse, muito QRM! Muito gente queria só papear ou aparecer como acontece hoje em dias nas chamadas redes sociais. Decidi então entrar no grupo do Beijo – apelido do canal 88. Tinham amigos de vários estados brasileiros. Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Porto Alegre, dentre outros.

            Conheci muitas pessoas. Conversamos muitas conversas – QSO’s – enfim, dialogamos como nunca antes tinha feito! Fizemos muitas boas ações, trocamos muitos cartões-postais e presentes que eram então enviados pelos Correios. A solidariedade e a fraternidade eram duas características fundamentais dentro deste grupo.

            Certa feita, faltou leite em pó em Belém. Logo, logo, algum colega de São Paulo mandava uma caixa, sem cobrar ou estabelecer condições. Outra feita, um colega carga pesada – motorista de caminhão – oferecia de graça, alguns frangos congelados que transportava do sul para Belém – certamente eram abatidos em seu lucro de frete.

            Também brincávamos respeitosamente com algum colega conhecido ou não e até com parentes próximos. Foi este um caso:

            Saí de casa para visitar um colega em Ananindeua. A distância entre as nossas casas não eram mais de que 5 a 10 quilômetros. Deixei o meu rádio da estação fixa ligado em volume alto. Me desloquei em uma mobilete que então eu tinha. Ao chegar na casa desse meu compadre que era PX também, decidimos passar um trote pra casa. Quem atendeu foi a mãe de meus primeiros filhos. – Alô, alô Curupira! Tás em QAP? – na escuta. Logo, logo a voz respondeu: – Fala, Zeca! Tudo bem? – Zeca é o apelido de meu irmão que nessas alturas mudara-se para Macapá. – Sim, tudo bem! Como está por aí? – perguntou ele, isto é, eu. – Ah, Zeca, teu sobrinho tá doente. E relatou o caso pro meu irmão – eu – que é médico pediatra. Ai começou o trote: – Seguinte. Faz o que eu vou te passar: compra um litro de coca cola e dá pra ele. – Mas, Zeca… Retrucou. – E continuei: Se não passar, dá mais! – Mas Zeca!!! Ela não reconheceu a minha voz e como levava a sério as recomendações médicas, tava já intrigada e aflita. Não nos contivemos e demos gargalhadas ao microfone encerrando o trote…

            As ações solidárias, humanitárias e sérias, porém, predominavam. Na época que fui morar em Campinas, São Paulo, por exemplo, preferi ficar eu e toda a minha família – éramos seis – hospedados na casa de um deles, que só conhecia seu QRA – nome ou apelido – para que fossemos alugar casa na cidade de Campinas, onde eu estudaria, embora tivesse diversos tios e tias moradores em São Paulo.

            Ao chegar em São Paulo no meu pé de borracha – automóvel – fomos recebidos na Marginal Tiete, sem ao menos conhecer nossos rostos, só ouvíamos, ou seja, conhecíamos as vozes. Foi uma grande festa! Uma grande gozação ao tentar relacionar o apelido com a figura física. Bombril, Megaton, Noel e assim por diante.

            Já morando em Campinas, uma cidade então pra mim desconhecida, instalei a estação móvel no quarto de estudos. Fixei na parede um enorme mapa da cidade, para que eu pudesse me deslocar com mais precisão sem cair nos retornos errados das diversas rodovias próximas. Era na verdade, um novo mundo pra mim. Certo dia, eu estava modulando – conversando no rádio, na estação fixa – recebi um QTC – mensagem – pedindo ajuda para comunicar o falecimento de uma pessoa ocorrido em Recife, Pernambuco, de onde o cidadão estava falando. Prontamente, sem receio nenhum, brequei – respondi – e me coloquei à disposição para ser o mensageiro fúnebre. Anotei o endereço e sai no encalço do infeliz parente. Claro, antes anotei o roteiro pelo mapa da parede. Cheguei ao destino e comuniquei o triste fato. Missão cumprida.

            Localmente, entre os vizinhos imediatos, causei um QRM – problema – Minha voz começou a ser ouvida na caixa acústica da sala de uma cordial vizinha, que ao identificar o som, veio a mim relatar o ocorrido. Era a interferência da “bota” que eu acionava quando queria chegar mais nítido e forte no norte do Brasil, Belém, onde moravam meus parentes próximos. Decidi maneirar e só ligar o equipamento depois de me certificar que a vizinha não estava ouvindo o seu som, isso quase sempre altas horas da madrugada.

            Outros eventos engraçados e sérios aconteceram nesses anos todos de PX. Um dos mais hilários foi quando estávamos viajando de férias para Belém. Um querido primo meu ia com a gente. Ele era também PX. Sentou-se ao meu lado no banco dianteiro do carro e começou a modular – falar no rádio. De repente entrou uma estação de Itaboraí, Rio de Janeiro. Ele pediu QRX – parar para ouvir – se identificou e falou que tinha um QTC – mensagem – urgente pra uma pessoa moradora em Itaboraí. Ele, o meu primo, conhecia o ambiente pois morava no Rio de Janeiro. Prontamente o colega deu passagem e pediu para dizer qual era a mensagem. – Avise para o fulano que nosso pé de borracha – automóvel – está no prego. Estamos na Belém – Brasília indo em direção a Belém do Pará. – E qual é a mensagem, diga! – Retrucou o PX atencioso. – Qual é o problema mecânico? – completou ele. – Quebrou a repimboca da parafuseta do carro! – falou meu primo com a cara mais deslavada possível. Ele tinha notado que o cidadão era leigo no assunto… – Não entendi! Repita, por favor! – E meu primo, segurando o riso fez o que ele pediu. – Já anotei! Pode deixar! – Foi uma gargalhada só dentro do carro! Desligou o rádio e seguimos viagem.

            Assim, durante anos a fio, foi mais que um passatempo, na verdade, ampliou o rol de amizades locais e nacionais, ao mesmo tempo contribuiu para o desenvolvimento de minha comunicação que aqui pra nós, era demasiada tímida e limitada.

            Talvez a minha derradeira grande aventura de PX foi quando em viagem profissional para a Estação Ecológica de Maracá – Jipioca, na longínqua e desconhecida costa do Amapá, decidi levar comigo a estação móvel.

            Foi exatamente ela quem salvou a pioneira expedição. Depois de alguns dias isolados em Oiapoque, limite norte do estado do Amapá, onde iriamos pegar o barco do então Território Federal do Amapá. O barco não chegara e a equipe sem nenhuma notícia a respeito. Decidi instalar a estação móvel e tentar comunicação. Pra nossa alegria tivemos êxito e soubemos que o referido barco – o único capaz de encarar tal empreitada – teria encalhado no trecho inicial de sua viagem, ainda próximo de Macapá. Foi um alívio geral. Para não perder a viagem contratamos um barco de pesca local – decisão arrojada – para encarar as correntezas e alcançar as ilhas de Maracá-Jipioca, objetivo maior de toda a aventura. O PX mais uma vez cumpriu galhardamente a sua missão!

Publicado em 07 de dezembro de 2021 em https://www.webartigos.com/artigos/faixa-cidadao-uma-comunicacao-divertida-e-solidaria/168866

Compartilhar moradia

 Dedico ao saudoso padre, engenheiro agrônomo e colega docente da Universidade Federal Rural da Amazônia, UFRA, José Maria de Albuquerque, que me ensinou muitas lições de botânica, especialmente da Taxonomia Vegetal e os significados de muitas das palavras latinas, cujos nomes científicos cultivo até hoje.


                Tinha acabado de chegar em Manaus, Amazonas, para começar o curso de pós-graduação, nível de mestrado em Ecologia, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, INPA para o qual fui aprovado e selecionado. Era o primeiro curso deste nível a ser realizado na região norte do Brasil. O INPA dispunha de diversas casas em seu campus de Manaus, local de realização dos cursos, para acolher pesquisadores e visitantes eventuais. Algumas delas foram disponibilizadas para os estudantes dos cursos de pós-graduação recém-criados nas áreas de Botânica, Ecologia, Entomologia e Ictiologia. Eram pessoas de todo o Brasil, sendo 50% delas, moradoras da região norte, isto um fato inédito e inovador nos processos de seleção semelhantes. Para atendem a mais estudantes de fora de Manaus essas moradias deveriam ser compartilhadas por dois ou mais casais ou solteiros.

            Eu tinha acabado de casar em dezembro do ano anterior. Em meados de janeiro de 1976 embarcava eu, a esposa e o enxoval – Sim! Naqueles tempos era tradição e quase compulsório o casal montar os seus principais e indispensáveis móveis, equipamentos e utensílios domésticos do futuro lar, antes do casório! – no navio Lobo D’Almada, da Empresa de Navegação da Amazônia, ENASA, com destino à Manaus para fixar residência e estudar. Por sorte, tinha diversos parentes e um deles nos abrigou – o saudoso Tio Domingos e Tia Ena. Eu, a esposa e o enxoval.

            Nos primeiros dias de convivência no INPA, tudo era novidade! Conversas e sotaques os mais diferentes de todo o Brasil. Gaúchos, Paulistas, Catarinenses, Paranaenses, Cariocas, Cuiabanos, Mineiros, Baianos, Pernambucanos, Maranhenses, enfim o Brasil adentro, se mesclavam com os Paraenses e Amazonenses. Além dos professores Brasileiros tinham os professores “gringos”. Americanos, Alemães, Indianos, Ingleses, Argentinos, Colombianos, Portugueses, em suma, quase um planeta todo reunido no campus, nas horas das refeições, na biblioteca e nas sessões semanais de palestras, conferências ou anúncios de meros comunicados, que se tornaram um dos marcos fenomenais desse período pujante na minha formação. Todo o INPA parava nesse dia, nessa hora!

            Foi em um desses primeiros encontros ou em um meramente casual no campus, não me lembro bem desses detalhes, que recebi um convite aconchegante e até inusitado. Meu colega de trabalho, o saudoso padre José Maria de Albuquerque que faria pós-graduação em Botânica chegou pra mim e disse: – Estou te convidando para compartilharmos – essa palavra que hoje está na moda na comunicação digital – uma das casas daqui do campus. – Ficas num quarto e eu em outro. Sem maiores problemas. – Completou. Eu expliquei rapidamente que teria que consultar minha esposa e depois daria a resposta para ele. Na verdade, eu já tinha a minha resposta na ponta da língua que certamente coincidia com a dela, mas fiquei receoso que machucasse o meu colega, o qual prezava muito. Em outra ocasião, no dia seguinte, respondi pra ele. – Padre, eu sou recém-casado, trouxe todo o enxoval pra cá e decidimos começar uma vida em comum só nós dois. Estou procurando uma casa pra alugar. Portanto, te agradeço imensamente, mas será melhor assim.

            Eu passava a semana inteira no INPA. Consegui alugar, com a ajuda decisiva de meu saudoso tio Domingos, um quitinete relativamente próximo do INPA, na av. Constantino Nery. Todos os dias pegava o ônibus e ia pro INPA, onde passava quase sempre o dia inteiro estudando e onde vez por outra, almoçava no bandejão. Pra minha sorte, alguns meses depois, fui contemplado no consórcio que entrara ainda solteiro, em Belém. Meu saudoso pai despachou pra mim o veículo pela balsa e logo, logo, pude desfrutar de mais uma autonomia em Manaus. Cerca de um ano depois nascia o meu primogênito. O saudoso padre Zé fez o seu batizado, assim como dos outros dois filhos que viriam alguns anos depois, já morando em Belém.

Publicado em 22 de novembro de 2021 em https://www.webartigos.com/artigos/compartilhar-moradia/168834

E o canto do galinho garnisé calou-se…

            Faz cerca de uma semana que não escuto mais o canto do galinho garnisé do vizinho. Aquele canto que me despertava todas as madrugadas e me acompanhava pelo dia inteiro até o final da tarde parou, sumiu, não escutei mais.

            Desde o momento que percebi sua ausência fiquei intrigado. O que teria acontecido com o galinho garnisé do vizinho? A última vez que escutei ele cantando foi em uma tarde qualquer, cerca de oito dias atrás. Pelo início da madrugada deste dia fui acordado por umas falas altas. Era uma discussão entre vizinhos… Por alguns minutos tentei acompanhar de minha rede. Resolvi não olhar na janela, vai que uma bala “perdida” me acha... Eram vozes altas e zangadas. De repente um barulho de objetos caindo ao chão... Mas me contive e acompanhei a desavença deitado. Sabia, porém, que era bem próximo, certamente em uma pequena vila ao lado do prédio onde moro. Outras ocasiões e horários já tinha presenciado fato semelhante. De repente fez-se o silêncio. Peguei no sono novamente. Acho que era por volta das três ou quatro horas da madrugada. E segui dormindo.

            Na hora costumaz do canto do galinho garnisé começar, contudo, desta vez não o escutei. Fui despertado por outros sons e barulhos rotineiros como os freios desregulados dos ônibus urbanos que começavam a rodar ou por motoqueiros com seus silenciosos abertos finalizando suas farras. Alguns cantos de sabiás coleiras que habitam próximo, se contrapunham, felizmente... Mas o canto do galinho garnisé, nada! Pelo início da manhã, finalmente levantei-me, fui até a janela, e com mais apuro fiz um verdadeiro escaneamento auditivo e visual da área toda próxima. No chão da dita vila vi algumas cadeiras e uma mesa reviradas. Nada, nem um sinal do canto do galinho garnisé ou quem sabe de seu cadáver, ou penas espalhadas ao léu... Mais tarde, me veio novamente a lembrança do canto do galinho garnisé. Sua ausência começou me intrigar. Como, de repente, uma ave que tem em seu canto a rotina de sua vida, um verdadeiro e preciso relógio suiço, parou, silenciou, emudeceu? O que teria acontecido? – comecei a conjecturar. Teria ficado doente? Teria batido suas asas e voado? – mas me lembrei que galináceos não voam… Algum gato esfomeado em sua farra noturna o teria devorado? Ou teria ele sido alvo central, o pivô da discussão daquela madrugada imediatamente anterior? O que teria, enfim, acontecido com o galinho garnisé e seu canto? Imitando um exímio policial, respondi pra mim mesmo:– Todas as hipóteses são possíveis!

            O tempo foi passando e o canto do galinho garnisé nunca mais apareceu! Agora, já conformado e sem nenhuma resposta evidenciada que explicasse o triste fato, entrego os pontos. Meu isolamento social espontâneo daquela famigerada pandemia, porém, continua. Resta-me a lição da vida: Tudo passa! Certamente o canto do galinho garnisé, talvez o produto mais importante desta avezinha, passou. Ou morto pelo felino doméstico, ou enforcado pela ira do vizinho algoz, ou falecido por um mal súbito galináceo, enfim, ele morreu!

            Fica a esperança de que um outro galinho garnisé, ou quem sabe de um galo pedrês, assuma o papel de despertador da inexorável rotina da vida.

            Assim passará também a pandemia!

Publicado em 18 de novembro de 2021 em https://www.webartigos.com/artigos/e-o-canto-do-galinho-garnise-calou-se/168809

Rotinas familiares

            Duraram toda a minha infância e adolescência, lá pelos idos de 1960 – 1970. Anuais, semestrais, mensais e semanais. Eram como acordar, tomar banho, e escovar os dentes. Aconteciam tais quais, as chuvas das duas horas em Belém.

            Ao iniciar um novo ano, meu pai levava eu e meu irmão para tirar uma foto 3 x 4, às vezes no lambe-lambe da calçada da então Alfândega, na av. Castilhos França, Comércio, Belém, Pará ou num foto, o Foto Menezes, situado em frente a Praça da República, onde mais tarde seria construída a sede do Banco da Amazônia, BASA. Lá íamos nós – eu e meu irmão – banhados, roupas e sapatos novos e cabelos cortados – cortar cabelos era também uma outra rotina, esta mensal – para tirar as fotografias.

            Também no início de cada ano tomávamos o famoso purgante. Óleo de Rícino. Era o método para prevenir e combater as ocorrências dos vermes ou lombrigas. Nesses dias as brincadeiras eram quase todas interrompidas e um pinico guardava nossas camas para as eventuais ocorrências…

            Antes de começar nossas aulas regulares, também todos os inícios de anos e no início do segundo semestre, íamos ao consultório odontológico do papai para fazer a manutenção de nossos dentes. Era um tormento pra mim, mas ia. Lembro que certa vez ele não aguentou o meu nervosismo na hora da aplicação da anestesia e pediu socorro para o colega do consultório que concluiu o procedimento.

            Os cortes de cabelos eram mensais. Não tínhamos escolha nem opção. O corte era quase raso. Permanecia apenas uma meia lua de cabelos peteados na testa e no couro cabeludo. Recentemente se apelidou este corte de “Cascão” depois que um famoso jogador de futebol brasileiro apareceu com ele. Só na adolescência tivemos a liberdade de escolher, quando passamos a frequentar o Seu Arthur, um barbeiro muito legal que morava perto de casa, na trav. Monte Alegre. Ficamos amigos. Conversávamos bastante durante os cortes. Os temas tratados era sobre ET’S e fenômenos de OVNI, que eram meus temas preferidos. Chegamos a trocar livros sobre o assunto.

            Uma outra rotina anual, esta compulsória, era fazer a coleta de sangue para os testes de malária e febre amarela. A visita do famoso fura-dedo movimentava todo o quarteirão da rua onde morávamos. Ao avistarmos a bandeirinha colocada na frente da casa, às vezes acompanhada por uma lamparina acessa, quase um quarteirão antes, ao final da tarde, era o sinal que ia ter fura dedo! Não tinha para onde correr! E nada de pirulito pra aliviar o tormento ou brindar o feito!

            Uma rotina semanal que ansiava já no meio dela, eram os passeios dominicais ao Bosque Rodrigues Alves e ao Museu Goeldi. Ver as onças, os jacarés, os macacos, as araras e papagaios, os peixes-bois, as tartarugas e tracajás, as ariranhas, os peixes poraquês, enfim, toda uma fauna nos enchia os olhos e a curiosidade. Além, dos passeios de charretes e de barquinhos, que pareciam nunca terminar, em um espaço quase infinito imaginado dentro de nossas cabeças. Escalar o castelo sombrio até o seu teto e de lá avistar as imensas árvores da floresta ao redor era uma aventura desafiadora. Sem esquecer das fotografias pousadas tiradas montados nos cavalinhos de pau, ou postados em pé aos seus lados, posicionados logo na entrada e no início do passeio dominical. Quantas lições aprendi aí.

            Uma rotina semanal religiosa era assistir a missa das 07 horas do domingo na paróquia Nossa Senhora da Conceição, localizada alguns quarteirões de casa, na Rua Cesário Alvim. Quase todos os domingos formavam-se verdadeiras procissões de vizinhos, que começava a dois ou três quarteirões de casa. A gente aguardava a passagem de algum colega na frente de casa e nos juntava ao cortejo. O sino da igreja despertava a gente mais cedo e rapidamente nos aprontávamos.

            Algumas vezes íamos passear nas Praças da República e Batista Campos quando as bandas do Corpo de Bombeiros e outras tocavam marchas e muitas músicas nos coretos. Nos deleitávamos à sombra das generosas árvores ao redor.

            Uma outra rotina, esta anual, muito esperada por nós, era uma visita ao Arraial de Nazaré, durante o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, quase sempre acompanhados pelos nossos saudosos avós Clarice e Carlos que não perdiam um ano sequer, dele participar. Era uma festa! Andar no Carrossel de Cavalinhos; brincar nas “pescarias” ou eventualmente assistir os teatros de assombrações instalados no Largo de Nazaré eram algumas ações que fazíamos com muito gosto e alegria. Ganhar os brinquedos de rodinhas téc-téc, as cobrinhas de meriti ou os estranhos balões a gás que ficavam sempre no alto, eram os maiores desejos nossos. Só não saboreávamos os “algodões” coloridos, pois, por recomendação de meu pai eram “só açúcar”! E eram mesmo!

            Eram estas algumas rotinas que hoje recordo, de um tempo em que Belém calma, tranquila, sossegada. A chamada sociedade de consumo estava apenas dando seus primeiros passos entre nós…

Publicado em https://www.webartigos.com/artigos/rotinas-familiares/168724, 26 de outubro de 2021

Meus animais de estimação preferidos

            Tive vários. Desde cachorros e gatos até jabutis, tartarugas, tracajás e peixes ornamentais, sem falar de periquitos, papagaios, curiós e o derradeiro deles, um galo pedrês.

            O primeiro que eu me lembro, era na verdade mais de meu pai, eu só tinha uns sete, oito anos de idade. O Veludo, um cachorro, digamos, vira-lata, sem pedigree ou raça definida, simplesmente um cachorro. Pelo nome a ele atribuído – Veludo – pode-se concluir que a sua pelagem era um preto macio e liso de cauda espessa e também preta. Morávamos nessas ocasião na Vila Judith, na trav. Arciprestes Manoel Deodoro, Belém, Pará. A bem da verdade, como disse no início, ele era meu pai que o tratava com todo o cuidado, porém, o considerava um animal mais de guarda do que companhia. Tinha a sua casa, que meu pai mesmo construiu e localizava-se no pequeno quintal de onde ele não saia, ou seja, não entrava nos aposentos. Um pequeno portão na saída da cozinha feito exatamente para isso o impedia. Ele que cuidava dando-lhes alimento, água e o asseando de vez em quando. O Veludo foi famoso. Certa vez, um gatuno tentou entrar no quintal escalando o muro. Para atrair e distrair o Veludo, jogou-lhes uma comida ao chão. Porém, o animal não comeu a isca jogada, pois estava acostumado à só comer em um lata – aquelas de goiabada peixe – e continuou a latir copiosamente, o que fez meu pai acordar e afugentar o ladrão de galinhas que se mandou rapidamente. Quando em 1958, fomos morar no Rio de Janeiro, visto que meu pai, militar que era, fora transferido, o Veludo ficou sob a guarda de um tio, o Tio Prado. Pra encurtar a história, ao retornarmos para Belém, alguns anos depois, o Tio Prado mostra pra família, um recorte de jornal da época em que aparecia a foto do Veludo e suas qualidades caninas enaltecidas. Já alguns anos adiante, quando passamos a morar em casa própria, na rua Veiga Cabral, papai mandou fazer uma portinhola de tamanho adequado para o Veludo passar. Isso só acontecia no final do dia ou quando a casa ficava sem ninguém. O animal era solto e assim atravessava do quintal até a garagem e a frente de casa, cumprindo toda a sua área de ronda. Quando o Veludo se foi, guardei comigo a sua última corrente de metal, que em 1965, durante uma viagem-aventura da família pela estrada Belém-Brasília em direção ao sul do Brasil, resolveu um pequeno acidente no automóvel DKW Vemag em que íamos. O silencioso do veículo bateu na lama endurecida entre as valas formadas pelas rodas dos veículos maiores, especialmente caminhões de carga, que dominava o trecho ainda não asfaltado. Um ruído quase ensurdecedor passou a perturbar a todos. Depois de várias paradas para amarrar o dito acessório com uma corda que se partia logo em seguida, lembrei da dita corrente que tinha embarcado no porta malas – acho que foi a partir daí que a boa máxima cultivada por mim até hoje – Isto vai servir para alguma coisa! – me acompanha. Foi a solução até a chegada em Anápolis, Goiás, a primeira cidade que tinha recursos disponíveis para um conserto profissional do carro. Foi o que foi feito.

            Os jabutis, tartarugas e tracajás eram todos filhotes, certamente nem um ano de idade tinham. Eram enviados pela minha saudosa vovó Clarice, de Maués, Amazonas como presentes aos netos, quando de lá minha também saudosa mãe chegava. Vinham dentro de bolsas à tira colo sem maiores problemas. Para criar os tracajás e tartarugas os mesmos ficavam dentro de recipientes de vidro de boca larga, postos sobre mesas ou em algum móvel da sala. Os jabutis, porém, viviam soltos no pequeno quintal. Sua alimentação era baseada em vegetais como folhas de couve e alface, migalhas de pão e alguns pequenos pedaços de sobras de carne e peixes. Os jabutis além disso tudo comiam frutas. O grande desafio desses estimados animais de criação era acompanhar seus desenvolvimento, seus crescimentos. Entrava e saia ano e os seus tamanhos quase não mudavam na percepção de meus atentos olhos. Enfim, descobri aí a longevidade dos quelônios!

            Os peixes de aquário, que só mais tarde soube que eram chamados de ornamentais, foram no princípio, capturados por mim nas valas de frente e perto de casa, na rua Veiga Cabral e arredores, Belém, Pará. Os criava em vidros de boca larga, aqueles de embalagens de produtos alimentícios da época, que seriam jogados no lixo e que eu antes disso às resgatava cuidadosamente. Mais adiante, ganhei um pequeno aquário de vidro de meu pai, ao ver a minha dedicação aos peixinhos. Certo ano, no Arraial de Nazaré, durante o Círio, ganhei um peixe Véu de Noiva em uma brincadeira de pescaria. Fiquei radiante e passei a cuidar com mais afinco desses meus animais de estimação. Lembro que um deles, coletado nas valas, tinha a barriga grandona e outros com a cauda bastante coloridas. Descobri assim os sexos dos peixes e mais adiante alguns processos reprodutivos deles. O barrigudo na verdade era uma fêmea. Alguns dias depois de estarem na nova moradia, presenciei um fato extraordinário: o nascimento de filhotes saídos da barriga da barriguda! Sim, aquela espécie era ovovípara e o apelido da espécie guppy. Na última reforma de nosssa casa, papai dedicou um pequeno espaço entre a frente da casa e o muro frontal, para a construção de um pequeno lago revestido de azulejos e com água abundante e drenagem. Aí viveram os peixes e os quelônios com mais espaço e ambiente adequados que durou até a minha juventude e ingresso na faculdade de agronomia em 1970. Só quando estava fazendo o curso de agronomia é que fui saber que a cidade de Belém, assim como toda a grande bacia banhada pelo Rio Amazonas, era sedimentar e suas terras eram ocupadas por várzeas, igarapés e igapós e alguma floresta de terra firme. As chamadas valas nas ruas recém abertas eram na verdade, testemunhos de antigos igarapés e igapós que eram abundantes na capital. Explica-se assim a presença de peixes nelas. E Belém com seus lindos e inúmeros igarapés, tempos depois, passou a chamá-los pejorativamente de canais, onde os esgotos e as águas pluviais são lançadas! – Não quero ver vocês tomando banho no igarapé da Almirante Tamandaré! – Falava rigorosamente minha mãe para mim e meu irmão, antes de alguma saída. Este é um dos exemplos que os igarapés de Belém eram fontes de muitas brincadeiras e diversões naqueles tempos, meado da década de 1960!

            Gatos, tive alguns também. Não, não chegaram à comer os peixes, não! Um deles, já adulto, começou a fazer suas necessidades fora dos locais apropriados e a ele ensinados. Tinha vida livre. Á noite iam passear pela rua, subir nos muros e telhados próximos, enfim, viver felinamente… Meu pai, que não tolerava ver sujeita – era dentista – pegou corda com o comportamento inadequado e sujo do bichano e resolveu exportá-lo. Ensacou o mesmo, colocou no pota malas de seu Vemag e o soltou alguns quilômetros adiante, bem em frente ao Hospital Geral do Exército,HGB, na Praça Brasil. Para espanto e surpresa de todos, o felino no dia seguinte apareceu de volta em casa! Acho que ele, o felino, em suas saídas noturnas, conheceu Belém quase toda! Meu pai não desistiu. Em outra ocasião o levou muito mais pra longe, em ambientes nunca antes visitados, lá pra banda de Marituba! Daí, não voltou mais! Fui ter um outro bichano, algumas décadas mais tarde, quando morei só por um curto intervalo de tempo. Resgatei um filhote na rua e passei a criá-lo. Alguns meses depois, me arrependi do meu ato generoso ao ser importunado com as unhadas que o bichano fazia em minha rede, quando nela fazia a minha sesta habitual ou curtia uma ressaca. Ofertei o bichano à um vizinho e me livrei do bicho, optei pelo sossego.

            Com toda a certeza os meus animais de estimação preferidos são papagaios e periquitos. Pela inteligência dos mesmos em se comunicar, aprendendo palavas e até frases me cativam muito. Quando morei em Manaus por alguns anos, tive vários. A “Rosa”, o “Louro” viviam quase lívres em poleiros de gaiolas instaladas na parte de fora da casa, na direção do pequeno quintal sombreado. Eram carinhosos e até catavam piolhos em mnha cabeça… Não vou dizer as palavras que eles aprenderam pois algumas são palavrões, mas falavam também “dá o pé, louro”, dentre outras quando queriam passear comigo. Tive que dá-los quando retornei para Belém. O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, IBDF, hoje Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, IBAMA, começou a fiscalizar os passageiros na hora do embarque no aeroporto de Manaus e não tive como contrabandeá-los entre os meus pertences. Em Belém, ainda tentei ter um, mas desisti ao saber os custos das licenças ambientais e mais do que isso, avaliei que poderia importunar meus vizinhos do prédio, desacostumados aos sons canoros dos psittaciformes (papagaios, araras e periquitos).

            Neste mesmo período, por volta de 1990 – 1993, tive o mais inusitado dos animais de estimação: Um franguinho pedrês, presente de um amigo praiano, o Leds, barraqueiro da praia de Ajuruteua, Bragança, Pará. Sem pestanejar, aceitei o desafio de criar o galinho no meu apartamento e instalei o “Nixon Tung” – apelido que dei pro mesmo – em uma gaiola posicionada na pequena sacada. Para aliviar o inconveniente dos excrementos galináceos, dáva-lhes periodicamente comprimidos de creolina, um remédio aprendido em minha andanças pelo interior. Além disso, ele participava brilhantemente de minhas festinhas mandalas que eu promovia no apê vestindo-o com fraldas descartáveis, o que lhes dava liberdade para andar por todo o ambiente festivo!

            Enfim, nos dias atuais, já quieto, crio uns peixinhos em um aquário que instalei junto ao Meu Nano Viveiro na sacada do apê onde moro em Belém, Pará. Esses foram e são os meus animais de estimação preferidos!

Publicado em https://www.webartigos.com/artigos/meus-animais-de-estimacao-preferidos/16869320 de outubro de 2021


sábado, 4 de dezembro de 2021

Ficha de Interpretação de Texto do Livro "O Protocolo de Quioto e as cores"

 



Protocolo de Quioto e as cores. Interpretação de texto.

Autor: Carlos José Esteves Gondim

Editora: do Autor

Data: 23 de novembro de 2021

Local: Columbia, SC, USA.

Clique sobre o link abaixo para abrir a Ficha Digital desta interpretação de texto:

O Protocolo de Quioto e as cores. Interpretação de texto.

Orientações:

Para uma correta compreensão e interpretação do texto, siga os seguintes passos:

1) Leia lentamente o texto todo....2) Releia o texto quantas vezes forem necessárias....3) Anote as ideias mais importantes....4) Separe fatos de opiniões....5) Retorne ao texto sempre que necessário....6) Reescreva o conteúdo lido fazendo um resumo. Lembre-se que resumir não é copiar partes, mas sim indicar com as suas próprias palavras, as ideias básicas do texto.

Feito isto, responda:

1. A que planeta o autor se refere quando diz “Era uma vez um planeta azul”?

R:______________________________________________________


2. O que representam as bolas: uma branca; duas verdes; uma marrom; uma vermelha; uma amarela e uma violeta que estão dentro de uma bola maior de cor azul?

R:______________________________________________________


3. Quais as cores que representam a fuligem, a fumaça e o concreto?

R:______________________________________________________


4. O que provocou a cor branca das nuvens ficar cinza?

R:______________________________________________________


5. Quais eram as cores dos lugares que soltavam gases?

R:______________________________________________________


6. Quais são as três invenções que soltam mais gases?

R:______________________________________________________


7. Além dessas três, qual é uma edificação industrial que também solta gases? Por onde?

R:______________________________________________________


8. Qual será um dos maiores efeitos sobre este planeta se as cores marrom, preta e cinza continuarem a crescer?

R:______________________________________________________


9. Em que ano, 141 países se reuniram pela primeira vez para discutirem algumas ações para reduzir as cores marrom, preta e cinza? Em que cidade? Em que país?

R:______________________________________________________


10. Qual o principal objetivo desse encontro?

R:______________________________________________________


11. Quantos países se reuniram em 2009?

R:______________________________________________________


12. Qual o país que até 2021 não assinou o Protocolo de Quioto?

R:______________________________________________________


13. Além desse, quantos países ainda deixaram de assinar?

R:______________________________________________________


14. Qual o prazo dado pelo Protocolo de Quioto em 1997, para que cada país diminuísse as quantidades das cores marrom, preta e cinza lançadas no ar?

R:______________________________________________________


15. A partir de que ano o Protocolo de Quioto passou a valer de verdade?

R:______________________________________________________


16. Qual o país que tem o maior pedaço de verde do planeta?

R:______________________________________________________


17. O que a mudança climática poderá causar na cidade de Belém, Pará, Brasil?

R:______________________________________________________

18. Escreva aqui a sua opinião sobre o Protocolo de Quioto e o que achou sobre o lívro:

_______________________________________________________

_______________________________________________________

_______________________________________________________

_______________________________________________________

_______________________________________________________

_______________________________________________________

_______________________________________________________

_______________________________________________________

_______________________________________________________

19. Desenhe aqui o que você quiser sobre o tema do livro:






































Divulgação do Livro Amazônia: Do Quase Paraíso Verde ao Provável Deserto Vermelho e Cinza

  Olá! Peço que divulguem em suas redes sociais e de algodão... PARA CONHECER MAIS, ACESSE E LEIA:  Onde está publicado e disponível também ...