sábado, 28 de agosto de 2021

Meu nariz

 

                “Pensar globalmente, agir localmente”. Este foi um slogan lançado em 1990 para comemorar o Dia da Terra. Passados vinte e três anos, aquilo que seria um pensamento ecologicamente correto (outro slogan), digamos assim, contém uma mensagem a nosso ver fortemente colonialista: a globalização. Ora, globalizar significa desconhecer fronteiras físicas, culturais, científicas, usos e costumes e tudo o mais que forma o status de um povo, de um país, de uma nação.

                Não me refiro simplesmente à globalização da informação, rede mundial, parabólicas, celulares, comunicação via satélite, i-pods, tablets, etc. Refiro-me a globalização para quem? Quem se desenvolverá com a globalização? Quem terá benefícios com a globalização? Será o ribeirinho da “boca” do igarapé de São Benedito, na ilharga de Muaná, no Marajó, Pará? Ou o morador do edifício Atalanta, em Belém do Pará, ou ainda o morador da AvenidaVieira Souto, no Rio de Janeiro? Ou o morador da Vila da Barca, emBelém, Pará? Quem?

                Deparamo-nos diariamente, às vezes segundos a segundos, com mensagens na televisão informando acontecimentos lá da caixa-prego (Ops! Este lugar existe e está na Bahia, mais precisamente na Ilhade Itaparica!). Assim, sabemos de fatos do outro lado do mundo e deixamos de saber o que está acontecendo no nosso quintal, na frente do nosso nariz.

                Nomes estrangeiros titulando lojas, serviços, produtos, pessoas e tudo o mais. “É chic”, dirão alguns… De sorte que nossa cultura, nossas lendas, crendices, nossa ciência tradicional estão sendo soterradas por este fenômeno chamado globalização, uma verdadeira pororoca ou tsunami! Entre nós, até a pobreza e o meio ambiente dão poema… Quanta contradição existe em afirmar a fome e a pobreza na Amazônia!

                Por que teremos que esperar que chegue um alienígena para nos salvar? Que competência tem uma cultura e civilização que exauriu o seu chão, poluiu sua água e ar e exterminou milhares de espécies animais e vegetais?

                Que moral tem um povo de clamar por ar puro alardeando mentirosamente que a Amazônia é o pulmão do mundo, se este mesmo povo expele diariamente através de seus automóveis e chaminés toneladas e mais toneladas de gases altamente venenosos?

Eu quero ser dono de meu nariz e nele só quem mete o dedo sou eu mesmo!

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A “vaca” que virou “caviar”

 

                Os habitantes da cidade de Maués, um município do Estado doAmazonas, há apenas algumas décadas, tinham o hábito alimentar baseado fortemente na caça, pesca e coleta de produtos da natureza amazônica. Com uma população em torno de 15.000 habitantes – em 1950 – eram comuns, nos vastos quintais das casas, criatórios de quelônios como o jabuti, a tartaruga, o tracajá e outras espécies silvestres.

                O padre Antônio Vieira, citado por Leandro Tocantins em seu livro “Amazônia: Natureza, Homem e Tempo” afirmou: “… para ter o pão da terra, há de ter roça, para comer carne há de ter caçador”, referindo-se aos povos da Amazônia. Sublinha assim, de forma inconteste, a importância dos animais silvestres na alimentação das pessoas que moram nesta região.

                Ainda Leandro Tocantins informa que os próprios indígenas promoviam o criatório e aproveitamento da fauna amazônica, especialmente da tartaruga. Cita, por exemplo, que em 1785, entraram, para o curral da Capitania do Rio Negro, 2.896 quelônios. Se considerarmos que as tartarugas eram colhidas no período que vai de outubro a dezembro, meses em que as praias dos Rios Solimões e Amazonas ficam descobertas, chegaremos a uma quantidade média de 32 tartarugas capturadas por dia!

                Além das tartarugas, que os portugueses chamavam de “vaca cotidiana das mesas portuguesas”, outros quelônios, pacas, veados, antas, cutias, porcos-do-mato (caititus e queixadas) faziam parte da dieta não só dos habitantes de Maués, como de toda a imensa região amazônica.

                Há aproximadamente 33 anos – em 1980 – a população de Maués passou para algo ao redor de 30.000 habitantes. Foram necessários, portanto, 30 anos para que dobrasse de número. Isto corresponde a uma baixíssima taxa de crescimento populacional, o que reflete diversos fenômenos ocorridos no período, especialmente a migração de uma boa parte das pessoas para a capital, atraídas que foram pela instalação da Zona Franca de Manaus.

                Se a população humana levou três décadas para duplicar, os hábitos alimentares destas populações sofreram fortes modificações. A instalação da sociedade de consumo, simbolizada pelo surgimento de supermercados e grandes lojas de eletrodomésticos; a transformação de grandes extensões de floresta em pastagem e a intensificação da fiscalização

do então Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, IBDF, hoje Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis, IBAMA, sobre a coleta  de quelônios, e vários outros fatores sociais, econômicos e políticos, contribuíram para a drástica mudança. Agora, a proteína animal é adquirida nos açougues e supermercados e o peixe de primeira qualidade foi substituído por peixe de menor categoria, exatamente aquele que não interessa ao exportador. Quem imaginaria, por exemplo, que encontraria nos dias atuais, nos balcões refrigerados dos supermercados paraenses a arraia?

                A tartaruga deixou de ser a “vaca” cotidiana das mesas e virou “caviar”, disputado a peso de ouro pelas classes mais abastardas. Uma tartaruga de tamanho médio, no mercado ilegal, estava cotada em torno de Cr$25.000,00, em janeiro de 1992, cerca de R$60,00 reais nos dias atuais.

                A caça para a subsistência é olhada pelas pessoas que dela não dependem, como um ato criminoso e antiecológico. Por outro lado, o incentivo para a pesquisa em manejo e criação de animais silvestres em cativeiro, que é uma das possibilidades para o suprimento de proteína animal de boa qualidade para as populações locais, é desencorajada pela dificuldade em receber apoio e cumprir com as normas legais vigentes.

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sexta-feira, 27 de agosto de 2021

O poço “vomitou”…

 

            Foi o que eu ouvi de uma velha sábia senhora moradora da comunidade extrativista de Tucumanduba em Soure, Pará. Estávamos conversando sobre a atual temporada de chuvas no Marajó. Esperei ela completar para eu poder entender o que ela queria dizer. Ao detalhar que em sua casa, quase na beira do lago São Domingos, o poço boca amazonas tinha vomitado de tanta água, isto é, a água era tanta que foi enchendo, enchendo até transbordar pela boca!
– Vomitou! – Completou ela. Fazia tempo que isso não acontecia. E eu nunca tinha imaginado que um poço vomitava! A imagem é perfeita! O poço que tem boca e a boca que vomita!
            Realmente muita água! O inverno marajoara deste ano tá confirmando o que o saudoso GiovanniGallo, aquele padre italiano “maluco” que fundou o Museu d’OMarajó e que como poucos marajoaras, incorporou o sentido da vida do grande arquipélago disse um dia: “Marajó, a ditadura das águas”. E é este elemento que domina, impõe suas vontades e somente através do seu bom entendimento o homem vive e sobrevive no Marajó.
            As areias das praias mesmo quando a água da maré está lá embaixo continuam úmidas, molhadas até, pelo escorrimento superficial das águas das chuvas que não conseguem mais infiltrar-se no solo. O verdadeiro igarapé que se forma na beira da estrada e que em algumas partes invade também o seu leito, mesmo quando a chuva faz tempo que terminou… Este é o inverno marajoara.
No meio disso tudo, uma explosão atlântica: “O nível do mar está subindo mais rápido do que o esperado”, dizem os cientistas. E em uma simulação – vejam bem – si-mu-la-ção, cientistas brasileiros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE, informam que 28% do Marajó desaparecerá se o mar subir apenas 2 metros! E completam, “Em um futuro não muito distante!”. A boca do mar está prestes a vomitar também!

            Entre simulações e elucubrações o marajoara vive o seu hoje, montado em seu búfalo ou navegando em sua montaria. Uma notícia científica divulgada sem maiores explicações. Superficial como a boca do poço. Ou sem maiores explicações que o senso comum entenda, decodifique. Sou mais a velha sábia e o seu poço que vomita!

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Publicado em 16 de agosto de 2013 em WEBARTIGOS

A “preguiça” do caboclo amazônico

 

            O caboclo amazônico só trabalha quando está com fome”, disse-me um comerciante de origem nordestina. Será verdadeira esta afirmação? Quem lida com pessoas, especialmente nas atividades agrícolas em nossa região pode chegar a essa conclusão. Vale a pena, porém, analisar o ambiente em que o caboclo amazônico vive, compará-lo com os de outros lugares – por exemplo, o do nordestino – e desta análise fazer novas inferências a respeito.

            Na região do Salgado Paraense, especialmente no município de São Caetano de Odivelas, ocorre um fato bem típico, desta quase sempre enervante relação trabalhista, na qual o empregador quase nunca fica satisfeito com o desempenho de seu empregado de origem local. Lá, a mão de obra torna-se difícil em certas épocas do ano, devido o caboclo preferir “tirar” caranguejo no mangal, em vez de trabalhar em atividades de criação e plantação recebendo o salário. Este município é rico deste recurso e o acesso a ele é favorecido pela estrada que corta o manguezal. Em época do suatá – quando o caranguejo anda – é frequente encontrar-se verdadeiras procissões indo em direção do mangue.

            O ambiente amazônico pouco alterado que está, ainda é rico em recursos naturais. O caboclo com antepassado índio sabe muito bem disso. Como a floresta amazônica está em equilíbrio, ou seja, a produção de energia iguala-se ao consumo, o caboclo que nela vive pouco acumula ou capitaliza. Talvez a farinha de mandioca e o peixe moqueado ou salgado, sejam algumas formas de capitalização que ele desenvolveu. Tendo a farinha e o peixe, o que ele quer mais?

            Quando o rio não está na frente de sua casa, um dadivoso igarapé lhes oferece o peixe-do-mato por detrás. Se quiser variar o cardápio, arma o “bufete” – um tipo de armadilha que dispara um tiro apenas, quase sempre certeiro, em uma caça que se aproxima descuidada – e assim obtém carne de ótima qualidade (tatu, veado, paca, etc.). O açaí, que para quem vive no interior do Estuário Amazônico – nas Ilhas – ainda é o café, o almoço e o jantar, a ele se juntando o camarão salgado (pescado no matapi), ou o peixe ou o charque, ou qualquer outra carne, e está resolvido o problema.

            E o caboclo nordestino, tido e havido como pessoa trabalhadora, por que o é? Lá, opostamente ao que aqui ocorre, o ambiente é árido, faltam-lhes os recursos naturais. Assim, a busca pela sobrevivência faz de sua força de trabalho o meio de obter o seu sustento.

            Esta é a grande diferença. “Preguiça”, nunca, ou quase nunca…

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Publicado em 08 de agosto de 2013 em WEBARTIGOS

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Quase peixes

 

            A água, em dois de seus principais estados encontrados na natureza, influencia e caracteriza fortemente os diversos ecossistemas da Amazônia. A começar pelo clima da região, denominado que é de pluvial, quente e úmido. No estado líquido aparece como pluviosidade e no gasoso como umidade.

            Estima-se que a pluviosidade – quantidade de chuva caída em determinado lugar e em determinado tempo – está em torno de 2.200 milímetros de chuva, em média, por ano. Se pudéssemos guardar todas essa água das chuvas caídas em um metro quadrado de terra, em um ano – para isso acontecer a água não poderia evaporar; as plantas, os animais e o homem não a utilizariam em seus metabolismos e atividades vitais; não vazaria para os igarapés e rios e não se infiltraria para as camadas profundas  do solo – teríamos uma coluna de 2,20 metros de altura, ocupando os mais de 5 milhões de quilômetros quadrados da Amazônia! Na impossibilidade de satisfazer estas condições teóricas, mesmo assim, essa enormidade faz existir na Amazônia a maior bacia hidrográfica do mundo, representando 15% de toda a água doce na forma líquida do planeta!

            A água gasosa, chamada de umidade relativa, presente na atmosfera da Amazônia, é em média de 80%. Isto tudo, favorecido pelas sempre ou quase sempre elevadas temperaturas, permite a existência de uma grande quantidade de fungos e bactérias, que encontram aqui, condições propícias para se reproduzirem, crescerem e se multiplicarem.

            Vivendo neste ambiente, o homem branco, ao contrário do índio, muitas vezes demonstra ainda estar pouco adaptado a esta condição de domínio absoluto da água. Embora o belenense, por exemplo, cultive ou cultivava a apologia da chuva da tarde, como marcadora de encontros e despertadora de muitos eventos, até hoje não desenvolveu hábitos, costumes e estratégias que demonstrem o seu reconhecimento da importância da água no seu dia a dia. Suas casas na maioria das vezes, não apresentam como deveriam ter, vastos beirais; os abrigos das paradas de ônibus, pouco ou nada protegem das chuvas e do sol inclemente; é raro as pessoas terem o costume do uso do guarda-chuva ou da capa; quando começa a chover, presenciamos cenas de correria das pessoas pegas de surpresa, tentando encontrar algum abrigo; muitas vezes atividades são adiadas ou prejudicadas, pelo simples fato de terem sido programadas desconsiderando o período do dia e a época do ano que iriam se realizar.

            Sonha-se em ter um carro, porém, pouquíssimos pensam em pilotar um pequeno barco ou uma moto aquática por entre os vastos rios e igarapés que nos rodeiam. Demos às costas para os rios e para as baías, mas reclamamos de mais estradas e pela conservação das existentes.

            Vivemos em um “continente-água”, somos quase peixes, mas a água nos é cara e, pior ainda, considerada como um líquido precioso…

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Publicado em 07 de agosto de 2013 em WEBARTIGOS

Não descarte a Natureza

 

            Consumir, consumir, consumir… É a palavra de ordem. Globalizar para consumir ou consumir para globalizar. É a questão verdinha em folha. O Norte olha para o Sul repara o tamanho do mercado consumidor potencial. Olha também para o tamanho do almoxarifado natural disponível. Muita madeira, muito minério, muita água.

            Em 1991, só nos Estados Unidos, eram descartadas cerca de 30.000 fraldas por minuto! É pouco, ou quer mais? Então lá vai: 2.850 canetas esferográficas! 28.000 aparelhos de barbear! Vejam que isto tudo em apenas um país, diga-se de passagem, o berço e lugar da maior sociedade de consumo do mundo atual! E para onde vai todo esse material? Para a Natureza, é claro.

            É mais rico, quem mais produzir lixo! Sim, é verdade. O progresso, o desenvolvimento, a qualidade de vida, sei lá o quê, para os consumistas inveterados é medido pelo volume de “resíduos sólidos” que a pessoa, a cidade, o país produz. Ainda naquele ano, segundo a mesma fonte, o americano produzia em média 2,5 quilos de lixo diário. Naquela altura o brasileiro produzia apenas um quilo… Aí o humano se iguala ao rato, seu quase permanente companheiro: acumula lixo e como acumula! Diz uma famosa carta de um índio americano: “Um dia, homem branco, acordarás sobre teus excrementos...” São quase 70.000 substâncias consumidas atualmente. Metade delas tóxicas. A Natureza tem a capacidade limitada para digerir isto tudo. Além disso, o espaço também é limitado.

            Faça um exercício simples. Se você está de férias e teve possibilidades de sair de seu ambiente urbano rotineiro. Digamos, estás na praia do Pesqueiro, em Soure, Pará. Caminha um pouco pela areia. Acompanha a linha das últimas preamares. Olha pro chão. Observa. Vais encontrar entre galhos, folhas, frutos, sementes e outros materiais naturais, certamente frascos de plástico de xampu, bronzeador, vidros, latinhas de alumínio, sacos plásticos diversos, canudinhos de plástico, pedaços de isopor, copos e tudo o mais. Produtos ou embalagens de produtos descartáveis lançados na quase infinita – pensam eles – a lixeira, a Natureza.

            Soluções alternativas existem. Primeira: educar ambientalmente. Segundo: exercitar regularmente a reciclagem de materiais. Terceiro: evitar o máximo, a utilização de produtos ou embalagens descartáveis, especialmente aqueles que demoram em ser degradados. De preferência usar produtos biodegradáveis. Quarto: preferir embalagens naturais, como água de coco na embalagem natural --  próprio fruto – frutas, sementes e tudo o mais que chegou primeiro que você na Natureza. Não descarte a Natureza.

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Publicado em 30 de julho de 2013 em WEBARTIGOS

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Cheiros do Pará

 

            Está um sol de lascar! De repente, uma nuvem escura se aproxima e a chuva começa a cair. Finos pingos d´água recém-liquefeitos tocam o asfalto negro e quente. Como chegam, voltam para a atmosfera, agora como vapor que se forma no exato momento de seu choque com o chão aquecido. Simultaneamente, exala um cheiro, um bom cheiro de chuva. No campo, ontem roçado, o cheiro que a chuva recém-chegada faz é de mato. Mato novo, clorofiliano.

            De volta à cidade, outros cheiros poluem ou aromatizam o ar. É o bom cheiro da antiga fábrica de sabonetes. Não conheces? Então não és belenense. Sugestão: dá uma passada ali pelo bairro do Reduto

            Fostes ao Ver-o-Peso? Então sentistes o cheiro (mau) que exala da lama da famosa doca. Entre barcos, vigilengas, igarités, canoas e outras montarias, os restos da feira decompõem-se e atraem os urubus, fies lixeiros da natureza.

            Depois do almoço, ou à tardinha depois da sesta, tem o cheiro das torrefadoras de café. Puro ou nem tanto, o cheiro se espalha levado pelo vento terral.

            Cedo, na hora dos ônibus começarem a circular, tem o cheiro das panificadoras. É o aviso, para que daqui a pouco, os fregueses se dirijam para comprar o pão nosso, bromatizado ou não, de quase todos os dias…

            É hora do rush. As avenidas estão engarrafadas. Veículos por todos os lados, ou quase isso. O ar fica esbranquiçado, acinzentado e o mau cheiro dos gases e partículas expelidos pelos motores toma conta dos primeiros dez ou quinze metros da atmosfera. As mangueiras, as acácias, os oitizeiros, as castanholas e outras árvores das ruas trabalham dobrado para retirar o CO² do ar. Será que conseguem? Em troca ficam com as folhas, os galhos e troncos enegrecidos pela fuligem.

            Tem um cheiro que é restrito. Criminosamente restrito às crianças e aos adolescentes da rua. Sai das lojas e em vez de ir para os sapatos, vão para as mãos desassistidas dos menores e quase adultos. Das garrafinhas descartadas de água mineral que lhes serve de depósito, até as narinas. É o cheiro da cola. Diz que mata a fome… E a esperança também.

            À tarde – para alguns, a toda a hora – tem o cheiro inigualável e verdadeiramente típico do Pará. O do tucupi cheiroso, fervendo na panela da tacacazeira. Tem mais. O cheiro da pimenta que esquenta ainda mais a singular iguaria paraense.

            Nas semanas que antecedem o Círio de Nazaré tem o cheiro inconfundível da maniva posta a ferver para preparar a original maniçoba.

            Agora, cheiro ruim mesmo é o do “chem” de Ananindeua, uma das cidades da região metropolitana de Belém. A decomposição do lixo doméstico a céu aberto, espalha pelas cercanias o mau cheiro. Madrugada destas, o cheiro invadiu quase toda a cidade de Belém. Eram quase três horas da madrugada. Uma névoa às vezes espessa, às vezes rala, cobria os prédios da cidade. O ar não corria. Estava abafado. Lembrei-me do fenômeno da inversão térmica. É frequente em cidades com altos índices de poluição do ar como São Paulo. Será que Belém “ganhou” a sua?

            Por fim, o cheiro mais cheiroso é o “cheiro do Pará”. Fragrâncias apreendidas das essências nativas da floresta amazônica. Perfumes acondicionados em saquinhos de papel e em vidros que exalam natureza. Levam para todos os cantos do mundo o cheiro da mãe natureza. É como um alerta. Uma mensagem para que o homem se lembre da Terra, como a mãe que perfuma seu filho querido.

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Publicado em 24 de julho de 2013 em WEBARTIGOS

Divulgação do Livro Amazônia: Do Quase Paraíso Verde ao Provável Deserto Vermelho e Cinza

  Olá! Peço que divulguem em suas redes sociais e de algodão... PARA CONHECER MAIS, ACESSE E LEIA:  Onde está publicado e disponível também ...